Dance como se ninguém estivesse vendo
Cante como se ninguém estivesse ouvindo
E beba como se fosse o último dia de sua vida

sábado, 8 de outubro de 2005

O despertar

O Equilibrista era um notívago e boêmio nato. Algumas horas de repouso eram suficientes para que seu organismo se restabelecesse (obviamente, em casos de extrema exaustão ou enfermidade, seriam necessárias horas adicionais). Durante seu sono inquieto, ouviu o barulho de correntes diversas vezes, assim como alguns ganidos. Atribuiu esses sons à cadela (denotativamente falando) alojada no térreo. Tinha, realmente, esperanças de que um animal irracional tivesse produzido sons tão grotescos e não um ser humano, pois se fosse esse o caso, se sentiria culpado por não ter intercedido a favor daquela que estaria agonizando.

Quando despertou completamente, o sol já estava alto no céu, mas encoberto por nuvens carregadas e que estavam descarregando seu pranto. Nenhum de seus companheiros dava sinais de atividade. Dirigiu-se, então, ao lavabo, livrou-se das secreções oculares e da oleosidade excessiva de seu rosto e preparou-se para mais um dia de aventuras.

Ficou sentado na cama onde dormira, de onde podia ver Devil. Só não sabia dizer se seu amigo estava dormindo ou em coma profunda. Ao lado da cama de Devil havia um pequeno lago, que aos poucos deixava de ser pequeno. O Equilibrista estava com vontade de soar uma trombeta e trazer todos de volta ao mundo dos vivos, mas apiedou-se de seus companheiros. Voltou ao lavabo, onde havia localizado um manuscrito com crônicas de outros aventureiros (fictícios, com alterações genéticas congênitas) e levou a obra à sua cama. A leitura o manteve entretido por algum tempo, mas ação era o que o ele queria. Devolveu o manuscrito ao lugar onde o encontrou e sentou-se em frente a um terminal de informações cuja tela estava apagada. E assim permaneceu até que Otome surgiu, envolta numa toalha e disse que lhe era permitido ativar a tela do terminal.

Mais animado, o Equilibrista rapidamente verificou o conteúdo à sua disposição. Procurou por jogos de cartas, mas não encontrou nenhum. Mas nem tudo estava perdido: havia um jogo que era conhecido seu. Tratava-se da continuação de uma aventura onde um valente guerreiro aprisionou um poderoso ser das trevas em um cristal e, para assegurar-se de que o mal estaria realmente confinado, cravou o cristal em sua própria testa. E assim continuou entretido, enquanto os outros aventureiros despertavam.

Molas e Apelão vieram perguntar se o Equilibrista havia sido incomodado por ruídos estranhos. O Equilibrista sentiu seu sangue gelar. Teriam sido eles os causadores daqueles barulhos tão medonhos e bestiais? Mas logo tranqüilizou-se, quando Molas explicou que o colchão onde ela e Apelão dormiam rangia muito e que bastava se mexer para que sons muito altos se produzissem (e daí surgiu a alcunha Molas Rangentes). Não. O que o Equilibrista ouvira não se assemelhava em nada com o ranger de molas.

Apelão viu que o Equilibrista estava brincando com a aventura em seu terminal e gentilmente deixou à disposição do jogador um personagem que não podia ser ferido e que matava tudo e todos com um único feitiço. Era realmente um personagem muito apelão (outra origem de alcunha explicada), e o Equilibrista não achou muito interessante jogar dessa maneira.

Vez ou outra, Devil dava sinais de vida, mas foi apenas quando o Andarilho apareceu no recinto, novamente trajando apenas as roupas de baixo, que Devil finalmente foi trazido de volta ao mundo dos despertos. Foi impiedosamente castigado pelo Andarilho e pelo Equilibrista e, para não ser vítima da tortura novamente, levantou-se.

O Andarilho viu que Apelão e o Equilibrista se alimentavam com doritos e guacamole e juntou-se aos dois. Ele só não esperava que uma migalha se alojasse em sua faringe, ao invés de ser prontamente direcionada aos canais mais inferiores. O Andarilho engasgou, tossiu, bateu no peito, mas a migalha persistia. Sugeriram que ingerisse um pouco do triplo-destilado, mas o efeito não foi nada satisfatório. Aparentemente, a migalha saiu da farige e foi parar no nariz.

Todos se preparavam para partir e o Equilibrista entrou no aposento do Andarilho para ajudar nas buscas de um registro de características fictícias de Otome quando, para sua surpresa, foi atacado pelo Andarilho que, miraculosamente descobrira seu ponto fraco. O Equilibrista foi ao chão, vermelho e indefeso, enquanto o Andarilho continuava a aproveitar-se de sua descoberta. Otome, apiedando-se, com apenas uma palavra, conseguiu poupar o Equilibrista de maiores sofrimentos.

Otome já havia encontrado o que estava perdido e o Andarilho foi compartilhar seu conhecimento recém-adquirido com Apelão. Aproveitando a brecha, o Equilibrista usou sua destreza e velocidade para passar para o outro aposento, arrumou seus pertences e antes que o Andarilho pudesse chegar com o reforço, usou uma cadeira como armadura improvisada, repelindo as tentativas de aproximação dos dois antagonistas.

O dia não estava favorável a Devil. Além dos tributos cobrados pelos Espíritos Etílicos, uma Górgona se apoderou de seus cabelos e fez com que o tecido com o qual os prenderia fosse destroçado. Para amenizar um pouco sua desgraça, utilizou-se de um potente ungüento trazido pelo Equilibrista. Aquela pasta transparente podia transformar cabelos na mais dura couraça. Mas, como o dia realmente não estava favorável a Devil, a pasta não teve nenhum efeito (pelo menos, nenhum positivo).

Enfim, todos ficaram prontos e, sob um céu cinzento e fios cintilantes que dele caíam, o sexteto partiu em busca de novas aventuras.

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