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sábado, 6 de janeiro de 2007

Equilibrista, afásico

continuação de Desmontando o Gaitista

As cordas vocais já estavam aquecidas mas precisavam de lubrificação. O Cartomante bebia destilado escocês com fluido repositor de energia; o Leão Montanhês, uma bebida diminuta da zona rural; o Equilibrista, um destilado nipônico de tubérculo; Emotivo e Leitora Pretérita, fermentado de cevada; Daeva e Espanhola, refrescos gaseificados de baixa caloria; e o Gaitista Cibernético, destilado de cana, puro, sem água em qualquer estado físico(!).

Constatou-se, pela escolha de cantigas a serem declamadas, que a Espanhola e o Equilibrista tinham várias preferências musicais em comum. Todos se surpreenderam com o timbre e volume da voz do Gaitista Cibernético que, durante uma conversa, se expressava em um tom mais baixo que o do Equilibrista, sendo quase um sussurro, mas quando estava com o bastão de captação vocal em suas mãos, elevava os decibéis a um nível surpreendente, podendo ser capaz de emitir comandos ultrassônicos aos infelizes cães.

O Leão Montanhês divertiu a platéia com interpretações corporais das canções azuis vociferadas pelo Gaitista Cibernético; o Cartomante interagia com o público durante suas apresentações; o Equilibrista dançou sensualmente enquanto cantava uma canção da coleção imaculada da polêmica Donna Má; Leitora Pretérita mostrou sua maviosa e feminina voz, sendo acompanhada, raramente pelo Emotivo; Espanhola esbanjava bom gosto (opinião nem um pouco subjetiva...) em seu cancioneiro; e Daeva demonstrava um pouco de sonolência.

Muitos ciclos do relógio se passaram quando a taberneira comunicou algo ao Equilibrista. Este entendera que a moça estava de partida e compartilhou a informação com o grupo, que ficou desapontado com a falta de espíritos etílicos ou macios que se seguiria em decorrência da ausência do serviço. Muito tempo depois, a sede era geral, e o Cartomante resolvou sair à procura de algo para aplacá-la, indo ao pavimento gastronômico e voltando logo em seguida, de mãos vazias. O Equilibrista divagava quando, para sua estupefação, a taberneira que anunciara sua saída entrou no cubículo com garrafas de fermentados de cevada e refrescos gaseificados! O bardo foi ter com a atendente, que argumentou que achava que era o grupo que estava para partir quando ela supostamente se despediu. Todos os presentes acharam que o Equibrista estava insano ou afásico (inclusive o próprio). Devaneios à parte, as cantigas voltaram a ser entoadas por cordas vocais novamente lubrificadas.

Depois de muito torturar seus aparelhos auditivos mutuamente. O grupo resolveu encerrar a noite.

Despediram-se no próprio cubículo, desejando boas festas ao Gaitista Cibernético, que ficou atônito. O grupo, exceto a vítima do engodo, dirigia-se ao corredor, quando o Equilibrista inverteu sua trajetória, indo em direção ao ser então catatônico, no centro da sala. Daeva protestou, mas o bardo alegou que foi apenas buscar sua abóbada impermeável portátil e um disco espelhado de baixo armazenamento cru (que iria entregar para a Rainha Mestiça transferir os momentos imortalizados em alta resolução em seu poder), que estavam no fundo do cubículo. O imóvel Gaitista Cibernético contemplava, em silêncio, seus companheiros deixarem a sala, quando os brincalhões encerraram a farsa.

As mulheres desceram primeiro e os homens puseram-se a preparar o Gaitista Cibernético para a descida. Desta vez, o Cartomante se encarregaria da parte orgânica; o Equilibrista, das células de energia e o Leão Montanhês e Emotivo, da parte mecânica.

O Cartomante e o Gaitista agurdavam ainda no cubículo, enquanto a parte mecânica era acomodada na carruagem a combustão interna do Emotivo. O Leão Montanhês subiu novamente, para verificar se alguma assistência era necessária. Foi quando ouviu o Gaitista reclamar que sua peça de vestimenta inferior havia caído e estava com seus grandes glúteos expostos. Para poupar os demais de tal visão, o bondoso Leão Montanhês recolocou a vestimenta em seu lugar e o trio finalmente desceu.

Com o Gaitista acomodado no interior da carruagem, todos se despediram e fizeram votos de se encontrarem muitas vezes durante a translação seguinte.

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