Dance como se ninguém estivesse vendo
Cante como se ninguém estivesse ouvindo
E beba como se fosse o último dia de sua vida

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Um dia no reduto

O dia de Thor começou tarde. O Equilibrista ignorou totalmente seu dispositivo de ancoragem astral, que estava programado para trazer o aventureiro de volta ao plano material às 0830. Doce ilusão. O Equilibrista abriu os olhos apenas às 1030 e decidiu que não iria à sua guilda nesse dia.

Então, de banho tomado e dentes escovados, ligou a interface visual de seu terminal de informações. Encontrou vários de seus amigos no simulacro de Hermes, entre eles, Pringl, em estado letárgico. Mesmo assim, continuou as melhorias que estava fazendo no terminal do Equilibrista. Através do simulacro de Hermes, passava as instruções que deveriam ser seguidas, até a instalação de um servo binário que permitiria Pringl controlar remotamente o terminal do Equilibrista. Na verdade, a correta instalação e ensinar o Equilibrista a conjurar e controlar esse servo binário era o objetivo desde o início.

Num dado momento, depois do ápice do sol no céu, Pringl deixou de responder. O Equilibrista, então, fez os preparativos finais, que tornariam mais fácil a localização de seu terminal ao se acessar a teia virtual. Passado um bom tempo, Pringl voltou ao simulacro de Hermes e explicou que havia sido derrotado por Hypnos.

O restante do dia seguiu sem maiores feitos, e o Equilibrista, que ansiava pela chegada do dia seguinte para testar o controle de seu terminal atráves da bilocação virtual, entregou-se ao abraço da Noite e viajou ao reino de Morfeu.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

A madrugada dos insones

Depois de muito caminhar, o Equilibrista encontrava-se próximo da morada de Pringl, embora não soubesse sua localização exata. Usando sua interface comunicadora móvel, contatou seu amigo (que daria um péssimo oráculo, tendo em vista suas previsões de horário nada confiáveis), e esse disse que estava a caminho, em um transporte de densidade vezes volume. Combinaram, então de se encontrarem em um médio-mercado, próximo de outro médio-mercado mais conhecido, porém mais mercenário. O Equilibrista tinha uma vaga noção de onde ficava o ponto de encontro e, quando passava em frente ao médio-mercado mercenário (após pedir informações aos oficiais da força de vigilância e ordem), foi avistado por Pringl, que, felizmente, ao contrário do que haviam combinado, esperava o aventureiro do outro lado da rua.

Os dois, então, se dirigiram à residência de Pringl, que iria mostrar seu grimório ilustrado ao Equilibrista. Ao chegarem, foram saudados por um diminuto carnívoro de pêlos encaracolados e cinzentos com olhos esfumaçados que latia constantemente. O Equilibrista viu vários terminais de informação ao longo da morada de seu amigo antes que lhe fosse exibida a pasta contendo as obras de Pringl. Eram trabalhos muito bons, que demonstravam muita técnica e talento, e deixaram o Equilibrista fascinado. Terminada a mostra, ambos partiram em direção ao reduto do Equilibrista.

No meio do caminho, pararam para comprar mantimentos. Pediram uma caixa contendo massas circulares cobertas com carne (aparentemente bovina), queijo e frango e um aglomerado de trigo, carne e coentro na forma elipsóide com extremidades pontiagudas. Tentaram adquirir água negra carbonatada, mas os preços não condiziam com a realidade. Durante o percurso, Pringl demonstrava sua capacidade de alternar assuntos frenética e aleatoriamente, mas o Equilibrista, com seu raciocínio multi-funcional e nano-compartimentado, não sentiu dificuldades em acompanhar o fluxo torrencial de informações proferidas pelo orador (como de costume, o Equilbrista mais ouvia do que se fazia ouvir).

Chegaram ao reduto do Equilibrista e logo se serviram de fermentados de cevada enlatados, pois a noite estava quente e ambos necessitavam de algo para molhar e resfriar suas gargantas. O terminal de informações do Equilibrista foi bastante utilizado e sofreu várias modificações em seu conteúdo, feitas pelas mãos de Pringl. Conversaram bastante, comeram, beberam, assistiram a itens audio-visuais orientais e outros ocidentais. Como não podia deixar de ser, o
NCcS foi servido durante toda madrugada, e então, ouviu-se pela terceira vez "Dociiiiiiiiiiiiiiinho". Pringl mostrou-se bastante resistente enquanto o Equilibrista desenvolveu anticorpos contra sua própria criação, ficando totalmente imune a ela.

Como quando sempre que as pessoas se divertem o tempo passa despercebido e acelerado, ambos se surpreenderam ao ver o sol comerçar a despontar no horizonte. Pringl, que preferiu voltar à sua residência ao invés de aproveitar as acomodações do reduto do Equilibrista, foi escoltado pelo aventureiro até os limites inferiores do edifício. Despediram-se e o Equilibrista, ao retornar ao alto da torre, deitou-se e fechou os olhos.

Mantendo o equilíbrio e a serenidade

O Equilibrista despertou com bastante entusiasmo para concluir seu trabalho, o que era surpreendente, tendo em vista a indolência freqüente dos últimos meses. Com atenção e afinco, imaginação e paciência, transformou a pequena torre de Babel eletrônica em um papiro carcomido razoavelmente inteligível. No entanto, o item ficou enorme. Utilizando um recurso do próprio manipulador de itens, conseguiu reduzir o tamanho do papiro em quase 20 vezes. Era quase hora da segunda grande refeição diária (se bem que, nesse dia, não houve a primeira) quando o Equilibrista remeteu o item à sua guilda.

Passou a tarde no mais completo ócio, e confirmou a visita que Pringl faria mais à noite. O sol já havia se escondido quando o Equilibrista lembrou-se de pagar os tributos por sua moradia. Como não gostava de realizar tarefas mundanas como ir a um estabelecimento Templário, o Equilibrista utilizava-se de seu próprio terminal para efetuar tais pagamentos. Mas qual não foi a sua surpresa ao se deparar com uma barreira tecnológica criptográfica que exigia um código que não tinha em seu poder. Para aprimorar a segurança e evitar fraudes em seus sistemas, a ordem Templária com a qual o Equibrista tem cadastro implantou uma verificação de identidade através de uma placa polimérica provida de caracteres numéricos em seu verso. Essa placa jamais chegou às mãos do Equilibrista, este se viu obrigado a deixar seu reduto para ir a um terminal Templário autômato.

Primeira tentativa. O terminal ficava a alguns metros de seu reduto, cerca de 8 minutos de caminhada. Chegando lá, o local estava em reformas, o que impossibilitava o uso das instalações.
Nível de serenidade: alto (mas meio afetado pela inconveniência de ter que sair de seu lar).

Segunda tentativa. Perto da Catedral Central, havia outro terminal. Ao chegar lá, o Equilibrista descobriu que seu horário de funcionamento era extremamente restrito e que, obviamente, o horário já havia passado. Nível de serenidade: normal.

Voltou ao primeiro terminal, pois nele estavam indicados outros pontos estratégicos onde um terminal funcional poderia ser encontrado.


Terceira tentativa. Constava que havia um terminal em uma galeria de compras, que já estava fechada.
Mas que espécie de galeria era aquela que fechava suas portas quando a iluminação natural cessava?! Nível de serenidade: baixo.

Quarta tentativa. No médio-mercado próximo da residência do Equilibrista era possível pagar os tributos. Mas quando o aventureiro indagou qual a forma de repasse de moeda deveria ser usada, ficou frustrado, pois deveria ser feito com moeda viva. Oras, se um dos terminais Templários autômatos estivesse funcionando, não seria preciso pagar tributos em um médio-mercado!
Nível de serenidade: baixíssimo! Modo tolerância zero ativado e engatilhado. Nesse momento, qualquer tentativa de comunicação com o Equilibrista que, de alguma forma, não o agradasse, poderia ter conseqüências catastróficas, explosivas e homicidas.

Quinta tentativa. Uma aura vermelha e negra exalava do Equilibrista, que marchava na direção de sua última esperança em efetuar o pagamento em dia. Tratava-se de um terminal localizado em uma grande avenida com nome de doce de festa. Era o mais distante dos terminais próximos. Estava chegando ao seu destino, quando descobriu (lembrou-se) da pior maneira possível que o terminal localizava-se nas redondezas de um centro de treinamento de futuros proletários de nível três. Avistou esses seres, que se amontoavam, formando barreiras e obstáculos, mas miraculosamente, o Equilibrista não teve que se esforçar para passar entre eles (graças à aura agressiva que emanava, talvez). Chegou ao terminal e conseguiu cumprir com sua palavra e seu prazo. Respirou aliviado e sua serenidade voltou ao nível padrão.

Duas missões foram cumpridas, mas o dia ainda estava longe de terminar.

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História curta, dia longo

Descansado e revigorado (etanol é combustível), o Equilibrista dirigiu-se à sua guilda (o que fazia com certa freqüência durante a semana). Trocou informações através do simulacro de Hermes instantâneo, como de costume, e tudo seguiu bem.Percebeu, através dessas conversas, que seu vizinho recém-descoberto, Pringl, sofria de devaneios crônicos críticos multi-coloridos e pluri-facetados (vide o anão estrábico de cabelos e barba roxos com suspensórios para cueca com margarida), que o mesmo apresentava aptidões artísticas manuais com ênfase em grafia plana em substratos celulósicos e que também compartilhava de uma certa propensão à ingestão cavalar de combustíveis etílicos. Então, o Equilibrista convidou-o para ir até o seu reduto, onde beberiam e apreciariam as obras realizadas por Pringl e outras, pelo Equilibrista (isso não foi mencionado antes, mas, sim, o Equilibrista tinha como atividade motora de relaxamento e entretenimento a grafia plana em substratos celulósicos, embora em um nível bastante amador).

Ainda em sua guilda, quando o sol já estava a meio caminho após o pico parabólico celeste, recebeu uma incumbência de seu superior hierárquico: deveria reunir, em um compêndio, os manuscritos de vários estudiosos. Esses estudiosos seguiam escolas diferentes, portanto, possuíam estilos diferentes, o que causou uma variedade de formas de expressar seu conhecimento totalmente discrepantes e sem uma unidade visual. Como o tempo era escasso, foi permitido ao Equilibrista não alterar as versões originais e apenas ordená-las e reuni-las. Seria uma tarefa simples, se cada manuscrito não tivesse um formato tão diferente um do outro.

Outro empecilho foi descobrir a ordem correta em que os manuscritos deveriam ser dispostos. O sol quase alcançava a linha do horizonte quando o Equilibrista conseguiu as informações de que necessitava. Partiu, então, para seu reduto, onde concluiria sua tarefa.

Chegando em seu domicílio, o Equilibrista acionou seu terminal de informações e logo avistou Pringl no simulacro de Hermes. Comentou a tarefa que tinha em mãos, mas que isso em nada afetaria o que estava previamente combinado. Mas Pringl também fora incumbido de uma tarefa pelo seu progenitor. Resolveram, então, que a reunião seria adiada para o dia seguinte.

Nunca tantas gerações foram amaldiçoadas, nem tantas matriarcas tiveram sua honra questionada quanto naquela madrugada, pois alguns manuscritos estavam feitos de uma forma tão desairosa que o Equilibrista quase teve que reescrevê-los.

Não suportando mais torturar seus olhos com tamanhas afrontas a Afrodite, declarou o dia como encerrado e que continuaria o suplício horas mais tarde, depois de um sono reparador.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Na Cama com o Equilibrista

Após dois dias extremamente agradáveis na presença de novos conhecidos e amigos, chegou o dia dedicado a Selene, e o Equilibrista deixou seu reduto em direção à sua guilda. Como seus afazeres não estavam muito atrativos, teve a idéia de começar a registrar as passagens de seu cotidiano.

O que tomou considerável tempo, foi a escolha de um pergaminho que agradasse seu gosto e dar alguns toques pessoais. Desde então, tem contado suas histórias e deixado-as à disposição daqueles que se interessarem por elas.

Como de costume, conversou virtualmente com Otome, Devil, Bowie e Vítima da Conspiração através de um simulacro de hermes instantâneo. Com Bowie, combinava como seria a noite, pois os dois e, também o Andarilho, haviam combinado de se reunirem nesse dia. No dia anterior, havia adicionado Pringl em sua lista de contatos, que passou a constar no ról de conversações diárias do aventureiro trabalhador.

O Equilibrista deixou sua guilda mais cedo para passar em um megalo-mercado, onde adquiriu fermentados de cevada enlatados e licor de pêssego, pois tinha em mente a elaboração de um novo coquetel mortal.

No caminho para casa, recebeu uma chamada de Otome em sua interface comunicadora móvel, informando-o que o Andarilho desejava que entrasse em contato. O Equilibrista ajustou a freqüência de sua interface para a do Andarilho e este avisou que chegaria mais cedo, portando um repordutor de imagens armazenadas em fitas magnéticas.

Já em seu reduto, o Equilibrista acessou seu terminal, ativando o simulacro de hermes instantâneo. Otome perguntou se o Apelão também iria para lá, mas o Equilibrista desconhecia essa informação. Comentou que o Apelão teria uma decepção, pois, provavelmente, iria para lá com o intuito de ver os itens orientais do terminal do Equilibrista, mas naquela noite, a programação seria assistir a uma saga ocorrida há muitos e muitos anos numa galáxia muito distante.

Ainda com o simulacro de hermes, o Equilibrista entrou em contato com Bowie. Então combinaram de se encontrarem na saída da estação de túneis de transportes subterrâneos mais próxima do reduto do Equilibrista. Deixou um pouco seu terminal e começou a misturar os ingredientes de seu novo coquetel. Na primeira versão, não adicionou o licor de pêssego. A bebida tinha um degradê que ia do amarelo pálido ao rosa. E era doce, muito doce. E foi batizada de Na Cama com S. (NCcS).

Perto do horário combinado, o Equilibrista dirigiu-se à estação. Chegando lá, contactou Bowie e este avisou que chegaria em 20 minutos. Percebendo que teria tempo de sobra, o Equilibrista deu meia volta, dirigindo-se a um micro-mercado, onde comprou parafusos de trigo que amolecem em água e tomates processados e condimentados. Passou em seu reduto, deixou as compras, checou o simulacro de hermes e retornou à estação. Ainda esperou mais aproximadamente 20 minutos, quando o glamour começou a invadir o recinto, anunciando a chegada de Bowie.

No reduto do Equilibrista, Bowie foi servido com uma dose do
NCcS e, então, ouvi-se pela primeira vez "Dociiiiiiiiiiiiiiinho". Entraram em contato com o Andarilho, que disse que estava saindo da guilda. Os dois ficaram conversando sobre Arcádia, banalidade e glamour e começaram a assistir às crônicas de uma guerra ocorrida em uma ilha amaldiçoada. O Equilibrista começou a preparar a refeição. Usou o pacote inteiro do parafuso de trigo, pois conhecia o apetite de seu amigo Andarilho. Muito tempo se passou e nada do terceiro membro chegar. O Equilibrista fez uso de sua interface comunicadora móvel e ficou sabendo que o Andarilho estava aos portões do reduto e que era mais uma vítima do Porteiro de Havana.

Imediatamente, o Andarilho passou a instalar o
reprodutor de imagens armazenadas em fitas magnéticas, mas logo surgiram dois empecilhos. Primeiro: o Equilibrista não possuía um filamento de cobre adequado para conexão do reprodutor com o receptor de imagens. Segundo: o reprodutor recusava-se a aceitar as caixas com fita magnética. Então, como alternativa, colocaram algumas melodias para serem tocadas no terminal de informações. Enquanto tentava consertar o reprodutor, o Andarilho provou o NCcS e, então ouviu-se pela segunda vez "Dociiiiiiiiiiiiiiinho".

Ao som de menestréis de metal, o trio se alimentava, bebia e conversava. A versão final do
NCcS foi desenvolvida, com a adição do licor de pêssego, que o tornou ainda mais Dociiiiiiiiiiiiiiinho. Terminada a refeição, Bowie dirigiu-se à cozinha e começou a lavar os utensílios por ele empregados. Mas o Equilibrista, em vão, disse-lhe para não se preocupar e deixar tudo ali mesmo. Quando o Andarilho terminou (muitos e muitos pratos depois), agiu da mesma forma que Bowie. No entanto, o Equilibrista não estava prestando atenção e, portanto, não disse para o Andarilho deixar o prato como estava. Isso gerou uma reação de complexo de exclusão (i.e. por que ninguém liga pra mim? e outras frases típicas daquelas criancinhas que não ganharam pirulito, sorvete ou brinquedo).

Terminada a cena da criança discriminada, Bowie sugeriu que assistissem a um item audio-visual oriental macabro que o Equilibrista havia elogiado. O Andarilho fazia pose de durão, dizendo que era tudo muito melodramático e cheio de conversa, mas no final, mudou de opinião, pois o sangue começou a escorrer na tela do terminal. Como o Andarilho ainda iria se encontrar com Otome e voltaria com ela pra sua morada, a sessão, que foi regada a
NCcS, terminou com o primeiro episódio do drama, pois havia limite de horário devido aos transportes. O trio seguiu para a estação de túneis de transportes subterrâneos, onde ficou Bowie. O Equilibrista acompanhou o Andarilho até a grande via que o levaria de encontro a sua amada e, então, voltou ao seu reduto.

sábado, 8 de outubro de 2005

Reencontros e novos contatos

O estado deplorável de Devil era mais do que evidente. Enquanto o grupo esperava pelo transporte que os levaria à Espinha Dorsal da Cidade, o pobre diabo passou a maior parte do tempo apoiado em uma coluna, mesmo que estivesse embaixo de uma goteira. Tentava manter os olhos fechados, mas era constantemente molestado pelo Andarilho e por Apelão. O transporte adequado finalmente chegou. Todos entraram, se sentaram um pouco distantes uns dos outros (não por escolha) e o silêncio reinou.

Chegaram ao ponto mais próximo de seu destino e desembarcaram. A visão de uma íngreme encosta não agradou o Equilibrista, que ficou na retaguarda acompanhando Devil, que movia-se como um autômato. A escalada terminou e, já na Espinha Dorsal da Cidade, compraram caixas individuais de mantimentos. Mais alguns metros de caminhada e chegaram ao Ponto de Encontro. Preocupado com o estado de seu companheiro, o Equilibrista, através de sua interface comunicadora móvel, tentou contactar seu pai, um fármaco-alquimista, mas não obteve sucesso. Ajustou a interface para a freqüencia de seu tio, um curandeiro, e conseguiu as informações de que precisava (obviamente, seu tio achou que o sobrinho queria usar os medicamentos em si mesmo, ao que o Equilibrista replicou, relembrando-o de sua resistência natural a toxinas). O grupo se distribuiu nas mesas e o Equilibrista retirou-se por alguns momentos.

Partiu em uma jornada solo para adquirir os compostos necessários para curar Devil e Molas, que reclamava de uma ardência estomacal. Aproveitou para adquirir uma garrafa de água negra carbonatada, que segundo seu tio, também auxiliaria na recuperação do enfermo. O Equilibrista retornou sem muita demora, portando um elixir hepático, sal de frutas, comprimidos anti-regurgitação, água normal e água negra. Ao entrar no recinto, reconheceu Soma Tudo, que estava num embate verbal com o Andarilho. Saudou-o e apressou-se para ministrar os fármacos aos seus companheiros.

A maioria estava comendo ou já tinha terminado. Apenas o Equilibrista e Devil ainda não tinham tocado suas refeições. Enquanto o Equilibrista comia, Devil esperava que os remédios surtissem efeito, Soma e o Andarilho continuavam conversando, com algumas intervenções de Otome e Apelão, e mais dois conhecidos chegaram: o Pombo e o Silencioso. O combinado entre esses dois era de darem um intervalo maior entre a chegada de um e de outro, mas a saudade não deixou.

Quando o Equilibrista finalmente terminou de comer, haviam chegado Bandana Fúcsia, Infante e Pringl. A cada um que chegava, o Andarilho ou Otome se vangloriava do fato de tê-los ressuscitado. Nenhum dos três era conhecido do Equilibrista, que era o mais novo do grupo. Devil tentava ingerir um pouco de sua comida, mas a quantidade absurda de óleo presente nela não estava ajudando muito. Pringl adquiriu uma refeição rápida compacta e o terminá-la, cumprimentou o Equilibrista, encostando amigavelmente em seu ombro (ou seja, limpando a mão na sua capa).

Uma figura não desconhecida surgiu: J.W.. O Equilibrista já havia visto o indivíduo em uma disputa de destreza em piscinas de atirar. Como Devil não iria fazer uso de seus mantimentos, Apelão se apoderou deles e depois passou o restante para J.W..

O Andarilho tinha tirado o dia para três eventos principais: um desabafo (na verdade, repreensões individuais personalizadas), contar o segredo (que o sexteto já sabia) e arbitrar um jogo de realidade virtual interpretativa. O segredo estava sendo contado e as broncas eram distribuídas oportunamente. Súbito, o recinto se encheu de glamour, pois do reino das Fadas surgiu Bowie. Não havia nenhuma reprimenda reservada para ele, então a comunicação seguiu harmoniosamente.

Eis que surgiram Amnésia e Amnésio. E uma pausa foi feita para que a sessão de repreensões fosse retomada. Chegou o instante em que Otome foi convidada a acompanhar Amnésia para que as duas pudessem conversar a sós. O grupo ficou apreensivo, pois duas mulheres partiram e havia a possibilidade de menos de uma retornar. Nisso, um grupo um tanto diferente entrou na área. Um deles lembrava um anão estrábico de cabelos e barba roxos com suspensórios para cueca com margarida (créditos do devaneio para Pringl). Outro era um ogro albino moicano com pantufas ocre e lentes lilás. Havia mais dois entre eles, mas os mais peculiares eram esses citados. Num dado momento, o anão estrábico tentou passar por uma porta -sem abri-la. Como entre seus dons não estava incluso o da intangibilidade, foi ouvido um sonoro estrondo da colisão de tecidos adiposos e ósseos com vidro e metal. Em solene respeito, ninguém gargalhou muito alto, embora um leve sorriso pudesse ser detectado no canto direito da boca dos espectadores.

O Equilibrista e Devil foram buscar a bebida típica do estabelecimento e o último resolveu se flagelar, pedindo uma tira de elastômero delgada para segurar seus cabelos revoltos (diga-se de passagem que seu visual havia sido motivo de chacota durante todo o encontro). Quando retornaram, Devil mal foi reconhecido e todos perguntaram onde ele estivera durante todo aquele tempo (além a aparência modificada, esteve catatônico durante uma boa parte do dia).

Algum tempo se passou e o estranho quarteto se retirou... e nenhuma notícia de Otome e Amnésia. Segredos e repreensões mais tarde, o jogo teve início. Emoção, aventura, churrasco e preparativos. Tudo isso e mais revelações sórdidas sobre o passado dos personagens fictícios. Mais uma vez, todos os presentes participaram de um jogo fenomenal (inclusive as duas damas, que, por incrível que pareça, voltaram ilesas). Um casal esquisito presenciou o jogo, mas não chamaram tanto a atenção. O grupo é que chamou a deles.

(Interlúdio: no meio do jogo, apareceu Miro. Um go-go boy lutador justiceiro que trocou idéias com o Andarilho e o convidou a participar de um combate físico. Em crônicas futuras, Miro será citado novamente, mas com uma conotação ligeiramente diferente, pois pode não se tratar da mesma pessoa, ou da mesma aparência)

A lua já dominava o céu e todos se despediram. Apelão havia levado Molas a um ponto de interceptação. Soma, Devil, Pombo e Silencioso partiram juntos. Bandana Fúcsia e Infante partiram separados. Bowie já tinha deixado o grupo há tempos. Com a volta de Apelão, um novo sexteto havia se formado: o Andarilho, Otome, Apelão, Pringl, J.W. e o Equilibrista. Os seis partiram juntos. Os três primeiros ficaram em um megalo-mercado e os últimos, seguiram adiante.

O trio remanescente acabou parando em um médio-mercado-mercenário e, com recursos de Pringl, fizeram o último brinde do dia. Conversaram e, de um ponto equidistante de suas moradas, se despediram e seguiram seus respectivos caminhos, sozinhos.

O despertar

O Equilibrista era um notívago e boêmio nato. Algumas horas de repouso eram suficientes para que seu organismo se restabelecesse (obviamente, em casos de extrema exaustão ou enfermidade, seriam necessárias horas adicionais). Durante seu sono inquieto, ouviu o barulho de correntes diversas vezes, assim como alguns ganidos. Atribuiu esses sons à cadela (denotativamente falando) alojada no térreo. Tinha, realmente, esperanças de que um animal irracional tivesse produzido sons tão grotescos e não um ser humano, pois se fosse esse o caso, se sentiria culpado por não ter intercedido a favor daquela que estaria agonizando.

Quando despertou completamente, o sol já estava alto no céu, mas encoberto por nuvens carregadas e que estavam descarregando seu pranto. Nenhum de seus companheiros dava sinais de atividade. Dirigiu-se, então, ao lavabo, livrou-se das secreções oculares e da oleosidade excessiva de seu rosto e preparou-se para mais um dia de aventuras.

Ficou sentado na cama onde dormira, de onde podia ver Devil. Só não sabia dizer se seu amigo estava dormindo ou em coma profunda. Ao lado da cama de Devil havia um pequeno lago, que aos poucos deixava de ser pequeno. O Equilibrista estava com vontade de soar uma trombeta e trazer todos de volta ao mundo dos vivos, mas apiedou-se de seus companheiros. Voltou ao lavabo, onde havia localizado um manuscrito com crônicas de outros aventureiros (fictícios, com alterações genéticas congênitas) e levou a obra à sua cama. A leitura o manteve entretido por algum tempo, mas ação era o que o ele queria. Devolveu o manuscrito ao lugar onde o encontrou e sentou-se em frente a um terminal de informações cuja tela estava apagada. E assim permaneceu até que Otome surgiu, envolta numa toalha e disse que lhe era permitido ativar a tela do terminal.

Mais animado, o Equilibrista rapidamente verificou o conteúdo à sua disposição. Procurou por jogos de cartas, mas não encontrou nenhum. Mas nem tudo estava perdido: havia um jogo que era conhecido seu. Tratava-se da continuação de uma aventura onde um valente guerreiro aprisionou um poderoso ser das trevas em um cristal e, para assegurar-se de que o mal estaria realmente confinado, cravou o cristal em sua própria testa. E assim continuou entretido, enquanto os outros aventureiros despertavam.

Molas e Apelão vieram perguntar se o Equilibrista havia sido incomodado por ruídos estranhos. O Equilibrista sentiu seu sangue gelar. Teriam sido eles os causadores daqueles barulhos tão medonhos e bestiais? Mas logo tranqüilizou-se, quando Molas explicou que o colchão onde ela e Apelão dormiam rangia muito e que bastava se mexer para que sons muito altos se produzissem (e daí surgiu a alcunha Molas Rangentes). Não. O que o Equilibrista ouvira não se assemelhava em nada com o ranger de molas.

Apelão viu que o Equilibrista estava brincando com a aventura em seu terminal e gentilmente deixou à disposição do jogador um personagem que não podia ser ferido e que matava tudo e todos com um único feitiço. Era realmente um personagem muito apelão (outra origem de alcunha explicada), e o Equilibrista não achou muito interessante jogar dessa maneira.

Vez ou outra, Devil dava sinais de vida, mas foi apenas quando o Andarilho apareceu no recinto, novamente trajando apenas as roupas de baixo, que Devil finalmente foi trazido de volta ao mundo dos despertos. Foi impiedosamente castigado pelo Andarilho e pelo Equilibrista e, para não ser vítima da tortura novamente, levantou-se.

O Andarilho viu que Apelão e o Equilibrista se alimentavam com doritos e guacamole e juntou-se aos dois. Ele só não esperava que uma migalha se alojasse em sua faringe, ao invés de ser prontamente direcionada aos canais mais inferiores. O Andarilho engasgou, tossiu, bateu no peito, mas a migalha persistia. Sugeriram que ingerisse um pouco do triplo-destilado, mas o efeito não foi nada satisfatório. Aparentemente, a migalha saiu da farige e foi parar no nariz.

Todos se preparavam para partir e o Equilibrista entrou no aposento do Andarilho para ajudar nas buscas de um registro de características fictícias de Otome quando, para sua surpresa, foi atacado pelo Andarilho que, miraculosamente descobrira seu ponto fraco. O Equilibrista foi ao chão, vermelho e indefeso, enquanto o Andarilho continuava a aproveitar-se de sua descoberta. Otome, apiedando-se, com apenas uma palavra, conseguiu poupar o Equilibrista de maiores sofrimentos.

Otome já havia encontrado o que estava perdido e o Andarilho foi compartilhar seu conhecimento recém-adquirido com Apelão. Aproveitando a brecha, o Equilibrista usou sua destreza e velocidade para passar para o outro aposento, arrumou seus pertences e antes que o Andarilho pudesse chegar com o reforço, usou uma cadeira como armadura improvisada, repelindo as tentativas de aproximação dos dois antagonistas.

O dia não estava favorável a Devil. Além dos tributos cobrados pelos Espíritos Etílicos, uma Górgona se apoderou de seus cabelos e fez com que o tecido com o qual os prenderia fosse destroçado. Para amenizar um pouco sua desgraça, utilizou-se de um potente ungüento trazido pelo Equilibrista. Aquela pasta transparente podia transformar cabelos na mais dura couraça. Mas, como o dia realmente não estava favorável a Devil, a pasta não teve nenhum efeito (pelo menos, nenhum positivo).

Enfim, todos ficaram prontos e, sob um céu cinzento e fios cintilantes que dele caíam, o sexteto partiu em busca de novas aventuras.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

O sábado - noite (batalhas e torpor)

A produção em série de Daikiri continuava, mas não se embriaga um grupo apenas com o veneno vermelho. Devil mostrou seus dons de destilação e, com o triplo-destilado do leste europeu, limões e sacarose pulverizada, elaborou fantásticas bebidas cítricas, também conhecidas como Caipirinhas. Baco não poderia estar mais contente (aliás, poderia, mas ainda não era hora para isso): Daikiris, Caipirinhas de limão e de morango e misturas etílicas com a água negra carbonatada.

Todos estavam felizes e animados, assistindo a algumas demonstrações bizarras de falta de auto-estima com efeito de cor semi-negativo (imagine-se um grupo de rapazes com a pele azul travestidos e rebolando num centro comercial, na praia...). Surgiu, então, um momento solene: um segredo, que o Equilibrista há muito ansiava por descobrir, seria revelado. Mas, para tanto, haveria um preço: uma partida de um jogo de estratégia ambientado num futuro não muito distante. Os desafiantes eram o Andarilho e Otome, que sabiam o segredo. Os desafiados eram Devil, o Equilibrista (que não sabiam o segredo) e Apelão. A proposta não agradou muito os desafiados, que não mostraram nenhum interesse pelo jogo em questão. O casal insistiu, insistiu, e continuou insistindo... até que desistiram, pois perceberam que nenhum dos três estava sequer com vontade de aprender o jogo. Então o Andarilho resolveu contar assim mesmo, mas todos teriam que ir para seus aposentos, pelo menos. E assim se deu o êxodo.

E o segredo foi revelado. Devil e o Equilibrista estavam um pouco confusos, pois alguns termos não eram de seu conhecimento. Mas bastaram algumas breves explicações para que os dois se situassem. Descobriu-se, também, que o local indicado por Otome durante a tarde deste mesmo dia, tinha relação direta com o que estava sendo contado. Muitas mudanças, muitos planos, muitas perspectivas. O entusiasmo saturava o ar, mas ainda havia certos obstáculos a serem vencidos ou atenuados para serem devidamente defenestrados quando surgisse uma oportunidade. Alguns relatos comoventes foram feitos por Devil, assim como pelo Andarilho, que era apoiado por Otome. O Equilibrista, como de costume, mais ouvia e observava do que fazia-se ouvir e ser visto. O segredo? Somente com o tempo será revelado nestas crônicas.

A imensa quantidade de etanol ingerida começava a surtir efeitos: Molas tentou se refugiar em seu aposento e foi seguida por Apelão. Como todos estavam muito animados, o Andarilho sugeriu que se realizasse uma Arena, envolvendo todos os presentes, e que todos estivessem presentes. Uma pequena comitiva partiu para onde estavam Molas e Apelão. Chegando lá, o Andarilho, Devil e o Equilibrista tentaram persuadir Molas a sair de sua cama. Como não estavam tendo muito sucesso, deram a entender que retirariam as cobertas dela, mas fazer isso não seria muito aconselhável, segundo o Apelão. Então os três deram um ultimato, tentando intimidar o casal, e partiram.

(Interlúdio: Devil, que havia tirado suas botas, perambulava descalço pela casa e travava algumas batalhas com um Elemental da Eletricidade. Principalmente quando abria uma torneira)

A Arena consistia em um combate virtual, usando as características fictícias dos participantes. O Equilibrista ficou incumbido de desenvolver o cenário. Quando terminou, Molas e Apelão já se encontravam com o grupo. Otome sucumbia lentamente aos Espíritos Etílicos e não quis tomar parte do evento, nem mesmo como moderadora. Devil resolveu continuar jogando deitado, mas mais dormia do que jogava. Era acordado nos seus turnos ou quando alguém que havia deixado o recinto retornava (quando ocorria um jogo de par-ou-ímpar). Em um determinado momento, Devil levantou-se e trancou-se no lavabo. Otome aproveitou a deixa para tomar o lugar de Devil (que, na verdade, era dela por direito). O jogo prosseguiu, mas Devil não retornava. Quando finalmente voltou, declarou que não lhe restavam mais forças para combater Hypnos e que iria se retirar. Como todos já estavam exaustos, resolveram decretar o fim do jogo e prepararam-se para dormir. Molas logo desapareceu. Apelão trouxe travesseiros para Devil e Equilibrista. Devil levou as cobertas que estava usando consigo, mas o Andarilho, trajando apenas as roupas de baixo, surgiu para tomá-las (as cobertas) de volta. No meio do processo, ajudado por Apelão, o Andarilho brincou de par-ou-ímpar novamente e torturou o pobre Devil. As cobertas foram facilmente recuperadas uma vez que Devil, que já estava num estado decadente, ficou praticamente incapacitado.

Um pouco antes de dormir e depois de todos terem se recolhido, o Equilibrista foi usar o lavabo. Mal trancou a porta e o Andarilho declarou que também queria fazer uso das instalações. Ao fundo, ouviu Otome dizer que também desejava fazê-lo. Fez o que tinha que fazer, lavou as mãos e abriu a porta. Não havia mais ninguém à espera. Foi apagando as luzes por onde passava, tirou os trajes de combate e deitou-se. De olhos fechados, ouviu que o Andarilho narrava os acontecimentos finais do jogo para Otome, que não os acompanhara por ter desfalecido. Os sons foram se tornando cada vez mais distantes até que deram lugar ao silêncio. A escuridão já estava presente e, então, só restaram os dois.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

O sábado - noite (pasta verde e bebida vermelha)

Aquisições na mesa, traseiros no colchão, cansaço à tona. O efeito letárgico do pastel com caldo de cana somado à fadiga do trio quase os levou aos braços de Hypnos. Mas estes resistiram. Devil trazia consigo uma unidade de armazenamento móvel, que foi conectada ao terminal de Otome, que aproveitou para ampliar seu repertório de melodias. Entre os itens disponíveis na unidade de Devil, estavam alguns trabalhos ligeiramente góticos. Com isso, teve início uma exibição de modelagens perfeitas, o que manteve os três entretidos e acordados.

Passado algum tempo, o Equilibrista se levantou e pediu uma faca para dar início aos preparativos da bebida vermelha letal. Passado mais um tempo, Otome e Devil ainda estavam observando o terminal e o Equilibrista continuava de pé, esperando a faca. Mais um tempo ainda se passou, quando Apelão retornou, acompanhado por Molas e o Equlibrista contiunuava de pé, esperando a faca. Algum tempo depois, Otome reclamou da falta de bebida com o Equilibrista, que disse, ainda de pé, que estava esperando uma faca.

Súbito, ouviram um ruído. Todos se voltaram para a porta, apreensivos. Mas a tensão durou pouco: era o Andarilho que adentrava o recinto. Trazia, em suas mãos, um roedor polimérico cuja região ventral irradiava uma luz vermelha. Estava avariado, aparentemente. A luz se acendia, mas nenhum comando era obedecido.

O Equilibrista finalmente recebeu sua arma e, após uma breve e desnecessária demonstração de perícia com a mesma, deu início ao preparo da bebida vermelha letal: o Daikiri (nota: durante o manejo da faca, o Equilibrista foi advertido por Devil que o objetivo era fazer Daikiri, não Harakiri - disso concluiu-se que a cena não era a mais bela de se ver). Para a elaboração da primeira dose, foi usado um limão siciliano. O sabor ficou mais suave e o aroma, agradabilíssimo. Por ser um cavalheiro (vide nome das crônicas), o Equilibrista dedicou o primeiro copo às damas e, portanto, fê-lo mais doce.

Otome solicitou o copo triturador ao Andarilho, que desceu à procura do item e quase teve sua mão decepada ao adquiri-lo. Felizmente retornou vitorioso, com o copo em suas mãos (ambas ainda funcionais).

Ao se apoderar do copo triturador e do copo com Daikiri, Otome deixou o recinto para executar o ritual de preparação do Guacamole, a pasta verde picante. Convocou Molas para auxiliá-la.

O Equilibrista preparou mais uma dose com o limão siciliano. Desta vez, com maior teor etílico e menos sacarídeo (note-se a grafia com "c"). Esse copo ficou nas mãos de Devil, que mal sabia no que estava se metendo.

De tempos em tempos, havia uma disputa por um lugar na pia entre o Equilibrista, Otome e Molas, visto que o primeiro queria lavar as mãos e seu utensílio principal e as duas estavam amassando abacate.

A terceira dose de Daikiri, feito, a partir de então, com limão taiti, foi gerada e circulava entre os homens, que se ocupavam de diferentes tarefas: o Andarilho, após uma tentativa frustrada de ressuscitar o roedor polimérico, se empenhava em restabelecer a comunicação entre os diversos terminais presentes em sua morada, apesar dos protestos de Otome; Apelão mostrava seu repertório de ítens audio-visuais orientais para Devil e Equilibrista. As mulheres estavam ocupadas, finalizando o ritual do Guacamole, mas apareciam ocasionalmente.

Ritual terminado. Otome trazia o tacho com a pasta verde, quando, para seu repúdio, viu o que estava sendo exibido pelo Apelão (os itens audio-visuais orientais, para quem tem memória fraca). Então, num ato ditatorial e de revolta, retirou-se para o aposento do Andarilho, levando consigo o Guacamole e dizendo que quem quisesse comer, teria que ir até lá. Pasmos e com doritos nas mãos, os demais presentes ficaram, por um momento, sem saber o que fazer.

Munido de astúcia e furtividade, após o turno de iniciativa perdido, o Equilibrista rapidamente pegou um recipiente menos volumoso e ficou à espreita, sabendo que Otome teria que deixar o Guacamole desprotegido quando voltasse para buscar alguns sacos de doritos.

Não esperou muito e a oportunidade surgiu. Adentrou no aposento sorrateiramente e transferiu uma boa quantidade para o prato, deixando-o no lugar do tacho. Quando já estava no outro cômodo, foi surpreendido por Otome, que o intimou a devolver a iguaria. Então fingiu que retornava ao aposento, mas logo em seguida deu meia-volta e todos se serviram.

Mas, como de costume, todos acabaram se deslocando para o aposento do Andarilho. (continua)

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

O sábado - tarde (na Morada do Andarilho)

Usando de muita agilidade, o trio cruzou as duas vias repletas de veículos em alta velocidade (eram os veículos que estavam em alta velocidade). Então, apenas uma pequena trilha os separava de seu destino final: a Morada do Andarilho.

Otome seguia na frente, mostrando o caminho. Devil arrastava os braços, ainda não regenerados. O Equilibrista contava quantas bolhas novas haviam surgido em seus pés. Diante do portão, os três foram saudados pelo Apelão, irmão do Andarilho. Subiram para o 1º andar e todos (sim, inclusive o Equilibrista) se sentaram. Molas Rangentes (doravente Molas), a companheira do Cavaleiro Apelão, juntou-se ao grupo e os três recém-chegados relataram os (não-)acontecimentos do evento. Apelão cobrou uma solicitação feita ao Equilibrista, mas este nem sabia do que se tratava. Tentando uma jogada mnemônica, o cavaleiro apresentou alguns manuscritos diretamente relacionados ao seu pedido. O Equilibrista tinha certeza de que nunca lhe foi pedido nada do gênero, mas ficou deveras interessado em obter o material requisitado.

Otome foi acessar o seu terminal de informações para mostrar alguns de seus itens ao Equilibrista, enquanto Apelão e Devil destruíam uma gaveta cheia de peças petroquímicas reconfiguráveis. Todos se reuniram no aposento do Andarilho e Otome começou a recitar alguns versos de suma sabedoria, coletados incansavelmente por Molas (durante sua labuta diária). Pelo menos 27 páginas mais tarde, as frases haviam se esgotado. Antes do término da leitura, Apelão partiu para escoltar Molas até seu lar.

Antes que a preguiça passasse a possuir Devil e o Equilibrista, Otome sugeriu que partissem em busca dos ingredientes para seu repasto e perdição. O grupo se dirigiu a um grande mercado e, no caminho, Otome mostrou aos dois um local que seria bastante apropriado para fazer algumas reuniões. Havia apenas alguns impedimentos burocráticos que barravam a concretização da idéia, mas pensaram por alguns momentos em meios de burlar os empecilhos. Em vão.

Já no mercado, a busca pelos ingredientes começou. Devido à presença feminina no grupo, o que levaria menos de 10 minutos prolongou-se por, pelo menos três vezes mais (licença poética e vide nome destas crônicas - mais precisamente, a primeira palavra). Conseguiram: limões, sacarose pulverizada, morangos, pasta láctea doce e condensada, água negra carbonatada e várias bolsas de aperitivos triangulares feitos de trigo. Sábia e providencialmente, Devil adquiriu um recipiente de destilado da europa oriental. Mas ainda faltava um ingrediente. O principal para a pasta verde picante que serviria de sustento aos aventureiros: abacate. Na verdade, haviam visto a fruta por lá. Mas esta não estava madura ainda. E Otome, receosa de elaborar uma pasta verde amarga (pois já havia passado por esta experiência), achou melhor buscar em outra fonte.

Traçaram um novo destino: uma banca de frutas e outros mantimentos. O Equilibrista, faminto, anunciou sua condição. Com muita satisfação e felicidade, ouviu Otome dizer que havia um meio de aplacar sua fome nessa mesma banca. Chegando ao local, logo avistaram vários abacates, mas o estômago os impelia para mais além, onde eram feitos os pastéis. O Equilibrista pediu dois (para ele mesmo - os demais ficaram só com um cada um) e todos se regozijaram com o alimento gorduroso e com caldo de cana. Novamente, o Equilibrista foi vítima do óleo. Desta vez, derrubou em sua capa, reforçando sua impermeabilização.

Termindada a rápida refeição, trataram de escolher os melhores exemplares da fruta verde que seria transformada em pasta. Tendo todos os ingredientes em mãos, o valoroso trio retornou à Morada do Andarilho.

O Sol já se escondera no horizonte e a noite engatinhava. (continua)

terça-feira, 4 de outubro de 2005

O sábado - tarde (no transporte)

Um veículo para transporte do grupo já se encontrava no ponto de interceptação. No entanto, já havia muitos usuários nele, motivo pelo qual o quarteto resolveu esperar pelo próximo. Nesse ínterim, Nodens e Otome foram se hidratar com uma bebida roxa de procedência extremamante duvidosa e Devil foi procurar algo para petiscar. O Equilibrista permaneceu o tempo todo no ponto, salvaguardando a posição privilegiada.

Durante a espera, algumas experiências foram trocadas. Do tipo:

Vendo um álbum de retratos, alguém comenta:
- Mas que exemplar mais voluptuoso de fêmea de cabelos escuros! (t: Que morena gostosa!)
- Concordo. É minha cônjuge. (t: Pois é. É a minha esposa, otário. E vai tirando os olhos!)

ou então:

Vendo outro álbum de retratos, um indivíduo diz:
- Pelas barbas do profeta! Que ser nefasto e decadente é esse?! (t: Piiii! Quem é essa velha acabada?!)
- Ser insolente! Trata-se de minha progenitora! (t: Piiiiiiii! É a minha mãe, piiiiiiiiii!)

Não muito tempo depois, um veículo praticamente vazio encostou. Após um breve intervalo, foi permitido que todos se acomodassem no interior do transporte e os quatro foram para a parte traseira. E lá permanceram placidamente, durante algum tempo.

Otome e Nodens falavam sobre algum assunto telúrico e Devil e o Equilibrista tratavam sobre artes marciais quando o veículo foi abordado por um comerciante peregrino ilegal. Tudo que o grupo pôde ver foi que o indivíduo tentava vender alguns tomos, mas não ouviram nada, uma vez que disputavam com o pobre diabo quem proferia as palavras de forma mais audível (afinal, o intruso estava interrompendo a conversa do grupo). Frustrado, o comerciante deixou o veículo e a paz voltou a reinar.

Era sabido desde o início da viagem que Nodens não iria até a Morada do Andarilho. Chegou, então o momento em que este se separaria do grupo. Não foi nenhuma cena traumática nem melodramática. Afinal, ninguém morreu. Nodens se despediu dos companheiros e saltou para fora.

O trio continuou sua jornada tranqüilamente e chegaram ao seu destino. No momento de deixar a diligência, houve um certo tumulto. O veículo estava abarrotado (o trio nem tinha percebido muito isso, pois estavam confortáveis em seus assentos mais elevados, acima da plebe que se amontoava) e, como dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço no mesmo tempo, foi necessário abrir caminho. As Rozycreidhes ficaram reclamando, murmurando, ruminando palavras que passariam despercebidas, não fosse a audição aguçada do Equilibrista, que fez questão de não sair do lugar até que alguém que não fosse do grupo das gralhas ocupasse seu lugar.

Estavam agora, perfilados à margem de duas movimentadas vias, Devil, Otome e o Equilibrista. E a chegada ao destino era iminente. (continua)

O sábado - tarde (no Reduto do Equilibrista)


Em meio a savanas e ruínas com cheiro de amônia, os homens, que seguiam Otome, ficaram em dúvida quanto ao senso de direção da mesma (digamos que isso foi depois de fazerem um trajeto em "U"). Mas ela acabou por encontrar um caminho, no meio do qual, o Equilibrista viu algo que lhe chamou a atenção: um casarão fantástico, que, segundo ele, um dia será sua propriedade (por isso a alcunha Bêbado).

Devil e o Equilibrista passaram por muitas provações, visto que o caminho era abarrotado de aldeões e falsários. Mais um ou dois esbarrões e os dois abririam o caminho a força (ou sairiam correndo para a trilha ao lado, que estava vazia).

Chegaram, enfim, ao Reduto do Equilibrista. Uma morada singela, localizada no alto de um edifício, devidamente provida de meios de comunicação a distância e suprimentos destilados e fermentados. Todos estavam exaustos devido ao percurso e beberam um copo d'água (me dá um copo d'água!). Durante o trajeto, Devil teve seus braços fatigados pelo peso excessivo dos pertences de Otome (como uma mulher consegue carregar tudo aquilo?). O efeito era similar à Cisão da Alma, mas apenas parcialmente (imaginem os braços apenas pendurados, como se fosse de pano). O Equilibrista, reclamando de bolhas múltiplas proliferando nos seus pés, começou a selecionar os utensílios para o preparo do veneno, ou melhor, da bebida vermelha e deixou os demais membros vendo alguns de seus itens audio-visuais orientais.

Por ter uma ligeira aversão à procedência dos itens, Otome caiu em estado letárgico e perdeu a oportunidade de ver alguns muito interessantes e engraçados. (Falando em itens, Devil e o Equilibrista trocaram dois pergaminhos cujo conteúdo deixaria Otome em coma)

Com todas as peças para o ritual da bebida reunidas, o grupo partiu para seu destino final: a Morada do Andarilho. Ao pisarem fora do edifício, o Cavaleiro Apelão contactou Otome, reclamando que estava esperando o grupo chegar para poder sair, pois não haveria ninguém para baixar os portões caso ele e sua consorte partissem.

Após uma curta caminhada, chegaram ao ponto de interceptação do veículo que os conduziria. (continua)

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

O sábado - manhã

Para partir em mais uma jornada no recém retomado mundo de interpretação de nosso aventureiro Equilibrista, o fim de semana teve que começar absurdamente cedo: em pleno sábado, estava de pé às 0630! (e havia dormido poucas horas antes... aproximadamente, às 0200)

Saiu de sua morada, que seria vista novamente, a priori, somente no dia seguinte, e partiu para se encontrar com seus amigos em um dos túneis de sua imensa cidade.

No caminho, reuniu toda sua coragem e parou em uma taverna para ingerir algum alimento. Pediu café (puro, já que jamais confiaria num leite de uma vizinhança com preços tão em conta) e uma esfiha. Surpreendentemente, o salgado estava excelente e nenhum traço de intoxicação foi confirmado.

Ainda com essa parada (que já estava programada), o Equilibrista foi o primeiro a chegar no ponto de encontro. O combinado era de todos chegarem a partir das 0830 e partir de lá às 0900. Por pouco, o limite não foi cumprido e, no horário, a pequena comitiva formada por 4 pessoas deixou o subsolo da Catedral Central rumo a um evento beneficente.

Os integrantes do grupo eram: Otome, Nodens, Some Devil e Equilibrista Bêbado.

Os valentes companheiros, quase chegando ao destino, se depararam com outro grupo que se dirigia ao mesmo lugar (não foi preciso nem perguntar, visto o modo como se trajavam). O pessoal era bem esquisito e uma menina (disfarçada de cenoura), particularmente irritante.

Chegando no evento (antes do grupo estranho, que previamente estava na dianteira), o grupo recebeu um folheto cuja apresentação deixou muito a desejar. O evento em si deixou a desejar, pois estava vazio e sem muitas atrações. Mas nem tudo estava perdido. O Equilibrista encontrou, graças ao seu amigo Devil, uma publicação que há muito procurava.

Também viram cenas bizarras: pessoas que se vestiam com farrapos, luvas-pantufas-cauda-orelhas-de-gato, poquemons, travestis de roupa e batom pretos, entre outras caricaturas, no mínimo, hilárias.

Também foram vítimas de uma ficazzola (uma fogazza de pizza): Otome queimou a língua, o Equilibrista derrubou óleio no seu pé e todos ficaram com as mãos engorduradas, pois não havia sabonete no lavabo.

Passados 30 minutos do ápice do sol no firmamento, o grupo resolveu deixar o local. O próximo destino seria a Morada do Andarilho, mas Devil não se mostrou muito disposto a acompanhar o grupo. Então, foi fisgado pelos prazeres etílicos: após ouvir muitos comentários positivos e tentadores a respeito de uma bebida vermelha preparada pelo Equilibrista, e que a mesma seria preparada naquela noite, Devil não resistiu e a comitiva partiu. O destino intermediário: o Reduto do Equilibrista. (continua)