Dance como se ninguém estivesse vendo
Cante como se ninguém estivesse ouvindo
E beba como se fosse o último dia de sua vida

domingo, 29 de janeiro de 2006

Energia Positiva

Mesmo os lapsos de memória não foram capazes de eliminar algumas datas importantes do arquivo encefálico do Equilibrista, como o dia do nascimento de sua amiga Lebre Platina. Então, naquela noite úmida depois de um dia encharcado, tentou contatá-la em seu dispositivo móvel de interface auditiva, mas não obteve sucesso.

O Equilibrista se perguntava por quê ainda tentava contato com sua amiga por esse meio, já que eram raras as vezes que a comunicação era estabelecida. Então, ordenou que Aço Negro tentasse se conectar com a interface fixa da morada da Lebre Platina. Sucesso! A interface foi formada com êxito graças à progenitora da aniversariante. Havia algum tempo que não se falavam, então conversaram animadamente. O objetivo primário não foi atingido, mas, mesmo assim, o Equilibrista se sentia mais energizado.

Era sempre bom conversar com a progenitora da Lebre Platina, pois ela emanava uma alegria contagiante e uma energia extemamente positiva. Mesmo sem vê-la, era possível imaginá-la sorrindo do outro lado da interface, enquanto falava com satisfação sincera. Isso fez com que o Equilibrista cogitasse contatar sua amiga mais freqüentemente, especialmente nos horários em que ela provavelmente não estaria em seu lar.

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Ano do cachorro

O Equilibrista andava um pouco receoso e perguntava-se se não seria prudente iniciar a construção de uma grande arca, visto que as águas pluviais não cessavam de se precipitar e, segundo os videntes climáticos, os dias que se seguiriam não teriam nenhuma melhora no tempo.

Tanto choveu na manhã daquele dia que o Equilibrista nem se dispôs a sair de seu reduto. Na noite anterior, havia combinado com Devil de assistir à comemoração do Ano Novo Lunar. O aventureiro até que estava entusiasmado com a idéia de provar um cardápio típico do povo do dragão e ver algumas apresentações de técnicas de combate, mas toda aquela água despencando do céu acabou por afogar sua motivação. Tentou contatar Devil, mas o ser notívago deveria estar dormindo, pois Aço Negro não conseguiu conectar-se com o dispositivo móvel de interface auditiva de Devil. Mas, para a surpresa do Equilibrista, seu amigo entrou em contato segundos mais tarde, informando que também havia desistido de sair do aconchego de seu lar.

Não conseguiu sair nem mesmo para comprar mais mantimentos. Sorte que seus estoques ainda agüentariam mais alguns dias, ou seria obrigado a conjurar um peão motorizado para trazer-lhe um disco de massa (dando crédito a quem merece: esse termo foi criado pela Rainha Mestiça) debaixo daquela tempestade. Na verdade, algum pobre peão motorizado foi o afortunado.

Aproveitando mais um dia em seu reduto, o Equilibrista acessou seu acervo de itens audio-visuais orientais e selecionou uma história que ainda não havia tido tempo de assistir. E assim passou seu dia, vendo todos os capítulos da história enquanto comia alguns aperitivos estocados.

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Desventura onírica

Viajando pelo mundo de Morfeu, o Equilibrista se viu em uma tenda que vendia artefatos (não foi possível identificar o nome do local ou a marca dos objetos). Eis que, então, vislumbrou algo que há muito procurava: um jarro.

Era um jarro de vidro, cilíndrico, com paredes delgadas e com detalhes em metal. Seu cabo seguia esse mesmo padrão, com inscrições em aço e com um mecanismo de abertura da tampa. Era exatamente da forma que o Equilibrista procurava.

Emocionado, o aventureiro retirou o objeto da estante e testava o mecanismo, verificava todos os detalhes quando, de repente, aquilo que não era tão inesperado aconteceu: localizou a etiqueta com o valor daquela obra-prima: 150 yankies. Ultrajado com aquela quantia, o Equilibrista colocou o jarro de volta e retornou ao plano material.

Desperto, dirigiu-se à câmara de estase de baixa entalpia e serviu-se de um suco enquanto lembrava-se do jarro de seus sonhos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

O Casal Misterioso

Depois de hibernar por quase 12 ciclos do relógio, O Equilibrista acordou com um chamado da Tecnocrata. Alguns membros da Facção Filantrópica estavam combinando de assistir a uma narrativa projetada nas trevas e o Equilibrista não havia confirmado sua presença. Pelo estado de sonolência que se encontrava, adentrar uma câmara envolta em escuridão seria o mesmo que dar a vitória a Hypnos. Então o aventureiro letárgico confirmou sua ausência.

Como de costume, a primeira ação do Equilibrista ao acordar foi sentar-se à frente de T-L e ver as novidades daquele dia. Num ataque de saudosismo, resolveu rever alguns momentos imortalizados que havia transferido para T-L e se deparou com um algumas imagens relativamente recentes: os momentos imortalizados do aniversário da Rainha Mestiça daquele ciclo planetário ao redor de seu sol.

Foi então que viu, estupefato, que já havia feito contato visual com o Casal Misterioso que, equivocadamente achava que conhecera no baile da noite anterior. Eles estavam, discretos como haviam se mostrado, no outro canto da mesa na taverna mexicana. Então o Equilibrista percebeu como sua memória havia sido afetada por sua peregrinação por outros planos, pois raramente se olvidava de fisionomias.

Para evitar mais lapsos mnemônicos, o Equilibrista pôs-se a escrever antes que novas lacunas se formassem, passando, então, mais de 8 ciclos do relógio transcrevendo suas lembranças em palavras.

domingo, 22 de janeiro de 2006

O baile da Discípula de Florence: Epílogo

O casal misterioso eram, na verdade, dois amigos da Rainha Mestiça. O Equilibrista não tinha reparado na chegada deles e achava que era uma outra formanda e seu namorado, mas explicaram que haviam chegado após a valsa e o Equilibrista finamente entendeu por que a Rainha havia passado seu último Daikiri da noite para o casal.

Andaram um longo trecho até chegar ao local onde a carruagem estava estacionada. Durante o percurso, a Rainha Mestiça andou apoiada em sua amiga e ora se dizia embriagada, ora sóbria. A carruagem estava no estacionamento de um velório e a Rainha Mestiça disse que eles não deveriam fazer chistes sobre o assunto, pois deviam ter respeito, mas ela não sabia por quê.

Ao entrarem na carruagem, a Rainha Mestiça informou que já sabia que o veículo estava estacionado em um velório. E perguntou onde estava o Equilibrista, que, então, acenou para ela, mostrando-se logo ao lado do Futuro Pajé. A Rainha Mestiça pediu desculpas ao seu amigo misterioso, pois sabia como era maçador ter um passageiro embriagado que não parava de falar e declarou que não diria mais nenhuma palavra. Então afirmou novamente que sabia que a carruagem estava estacionada em um velório. O grupo começou a rir, e ela ficou aborrecida e disse, novamente, que se calaria.

Com a carruagem em movimento, a Rainha Mestiça perguntou mais uma vez onde estava o Equilibrista, que, desta vez, não se pronunciou.
Ela repetiu a pergunta e falou que este havia deixado de ir embora com o Cartomante e Daeva e não deveria ficar sozinho. Perguntaram por que ele não deveria ficar só, mas ela não respondia, apenas repetindo que ele não deveria. Então o Equilibrista acenou novamente e a Rainha ficou mais calma.

A inebriada passageira pediu desculpas mais uma vez para seu amigo que estava ao volante. Depois falou que sabia que a carruagem estava estacionada num velório. O amigo misterioso da Rainha Mestiça se prontificou a levar o Equilibrista até seu reduto. Pelo horário não seria necessário, pois o sistema de trens subterrâneos já estava funcionando. Mas o casal misterioso insistiu que o levariam e o Equilibrista não fez mais objeções.

A Rainha Mestiça disse que era bom que ela não estivesse dirigindo, pois não queria matar ninguém e também informou que precisava eliminar líquidos. O Futuro Pajé falou para ela agüentar mais um pouco e ela retorquiu que era óbvio que ela iria se segurar e não iria molhar o assento da carruagem de seus amigos.

A situação pareceu se agravar, pois a Rainha Mestiça fazia o grupo lembrar, incessantemente, de sua necessidade fisiológica. E em todas as vezes, o Futuro Pajé pedia para que ela se segurasse e que não relaxasse, ao que a Rainha respondia que não iria sujar a carruagem de seus amigos, pois ela não era nenhuma ignóbil. O Equilibrista, então, pediu para que abortassem o plano de o levarem até seu reduto e que seguissem diretamente para a oca do Futuro Pajé. A estratégia foi acatada e, como estavam passando em frente a uma entrada para o sistema de transporte subterrâneo, o casal de amigos misteriosos perguntou se seria melhor para o Equilibrista se ele ficasse por lá. O aventureiro assentiu, então pararam a carruagem... ... o Equilibrista agradeceu e se despediu, desaparecendo, em seguida, no túnel dos trilhos subterrâneos.

O baile da Discípula de Florence: Desfecho

O Futuro Pajé estava completamente dominado pela bebida e desfilava entre a multidão com o reluzente copo na mão. Em um dado momento, o inebriado consorte da Rainha Mestiça tentou preparar um Daikiri. Não estava conseguindo abrir o Toróide Alquímico, então o Equilibrista interveio, sentindo empaticamente o sofrimento de seu valioso instrumento por ser manuseado por alguém que não o seu mestre. Quando o Futuro Pajé despejou o xarope vermelho em um copo ao invés de colocá-lo no interior do Toróide, o Equilibrista terminantemente proibiu que o incauto voltasse a tentar produzir o veneno vermelho.

O Cartomante se apoderou do ouriço estroboscópico de Daeva, então mais um Daikiri Explosion entrou em circulação. Como que para acompanhar a energia da bebida, os menestréis começaram a tocar antigas cantigas, o que fez com que todo o grupo saltasse de seus assentos e dançasse freneticamente ao sabor das batidas e gritos de guerra.

Uma triste notícia foi dada: as últimas doses de Daikiri seriam preparadas, pois o estoque de limões se esgotara. Do Toróide Alquímico do Equilibrista saíram as três doses derradeiras. Dedicou uma à Rainha Mestiça, outra à Assimiladora e a terceira, ao casal Daeva e Cartomante. O Equilibrista achou estanho e melhor não comentar, mas a Rainha Mestiça cedeu sua dose para um casal também estava à mesa, mas que o Equilibrista mal havia notado.

Como ainda restava destilado caribenho, o Equilibrista encheu um copo com água sólida e preparou outro de seus venenos: Cuba Libre. O grupo continuou bebendo e se divertido. Movidos a etanol, dançaram e pularam tanto que, faltando um ciclo e meio do relógio para que Apolo conduzisse seu carro pelo céu, estavam todos exautos. Assimiladora, que ainda iria viajar, foi a primeira a deixar o grupo.

Aproveitando que ainda estava sóbrio, o Equilibrista começou a guardar seus pertences para evitar que a embriaguez o forçasse a esquecer algum de seus preciosos utensílios. Uma habilidade que poucos sabiam que o Equilibrista possuía eram suas mãos leves. Discretamente observou os arredores e, quando não havia ninguém prestando atenção nele, fez com que o desejado copo desaparecesse dentro de sua alforja.

O Cartomante e Daeva resolveram decretar o fim da noite para eles. Perguntaram se o Equilibrista iria com eles, mas o destino ainda demandaria algumas atuações do aventureiro naquele dia, então ele providencialmente declarou que ficaria. Permaneceram a Rainha Mestiça, o Futuro Pajé, o Equilibrista e o misterioso casal.

Quando as fontes alcoólicas da mesa se esgotaram, a Rainha Mestiça pediu um fermentado dourado de leveduras ao Equilibrista. Esse pedido não poderia deixar de ser atendido por dois motivos: a noite era dedicada à Rainha e bebidas eram a especialidade e incumbência do Equilibrista. Usando de seu carisma e empatia reforçada com os profissionais etílicos, conseguiu rapidamente uma garrafa do fermentado. Quando retornou à presença da Rainha Mestiça, mal entregou a garrafa em suas mãos quando sentiu um objeto passar voando ao lado de sua cabeça. Instintivamente posicionou-se de maneira a proteger a Rainha, enquanto ouvia o barulho de vidro se estilhaçando e via pessoas se engalfinharem. Enquanto tentava levar sua amiga a um local seguro, observou vagamente o Futuro Pajé tentando impedir maiores agressões entre os rufiões. Foi quando a Rainha Mestiça tropeçou. O Equilibrista impediu sua queda e, auxiliado pelo misterioso colega de mesa, colocou a Rainha no colo, e esta apontava para o chão, mostrando o enorme arranjo que havia causado sua queda.

Enquanto seus dois amigos a carregavam, a Rainha Mestiça não parava de falar que estava bem e que podia andar, então seu estado de embriaguez foi claramente percebido. Levaram a Rainha até uma parte mais elevada, onde a outra integrante misteriosa da mesa estava esperando. Preocupado com a integridade física da homenageada da noite, o Equilibrista examinou seus pés, temendo que algum estilhaço tivesse perfurado sua pele. Por sorte eles estavam intactos. A Rainha, com uma voz entorpecida, perguntou onde estava seu consorte, e o Equilibrista informou-lhe que o Futuro Pajé estava apartando uma briga, então a Rainha pediu mais um fermentado, o que lhe foi prontamente recusado, pois o Equilibrista podia ser Bêbado, mas também era prudente. Perguntou se queria que trouxesse seus sapatos, mas a Rainha recusou.

Minutos mais tarde, o Futuro Pajé avistou o Equilibrista, que apontou para a Rainha Mestiça, semi-desfalecida em uma cadeira. O Futuro Pajé correu até ela e abraçou-a e contou-lhe da briga. Uma onda de tristeza invadiu a Rainha Mestiça, que começou a chorar e a pedir desculpas pela confusão - ela não tinha se dado conta da briga e de todo o estardalhaço até então. Ela também percebeu que estava descalça e que havia vidro no chão e, finalmente nessa hora, quis que trouxessem seus sapatos. Era chegada a hora de irem embora.

A Rainha Mestiça pegou sua bolsa e desesperou-se: o seu dinheiro havia sumido. Ela ficou inconformada e se dizia decepcionada por ter sido furtada eu seu próprio baile. O Futuro Pajé vasculhou as proximidades da mesa onde estavam e os bolsos de seu paletó, mas seus esforços foram em vão. Foram até a chapelaria retirar a mochila da Rainha e, ao abrir sua carteira, que estava guardada, retirou as notas que ela considerara roubadas.

O grupo deixou o suntuoso salão e rumou para onde a carruagem do misterioso casal estava estacionada.

O baile da Discípula de Florence: Desenrolar

No saguão de entrada, o calor continuava dominando. A Rainha Mestiça estava ligeiramente irritada, o que causou uma certa surpresa no Equilibrista, pois aquela noite deveria ser de muita alegria e comemoração. Assimiladora disse que a Rainha se comportara daquele modo pouco amistoso durante todo o trajeto até o local do baile.

O grupo chegou ao salão principal. Lá o clima parecia outro. Estava fresco e agradável e o Cartomante e o Equilibrista sentiram-se revigorados. Sentaram-se e, não se sabe claramente de onde, a Rainha Mestiça sacou seu imortalizador de momentos, que era um item proibido naquele local e que, por essa razão, encontrava-se oculto. Então, o motivo daquele mau humor da Rainha foi desvendado: aquele objeto estava, obviamente, a incomodando de tal forma que afetava seu comportamento. Daeva camuflou seu imortalizador em um embrulho para presente e Aço Negro não precisava de nenhum desses subterfúgios, uma vez que sua função principal era intermediar conversações.

A Rainha Mestiça requisitou o famoso veneno vermelho do Equilibrista e, este começou a dispor os equipamentos e ingredientes na mesa. Quando examinava os copos para escolher aquele me melhor se adequaria à bebida, o Equilibrista vislumbrou aquilo que há muito ansiava por adquirir: um copo alto de boca larga. Por vários empórios o aventureiro perambulou em busca daquele artefato sem jamais encontrar algum que o agradasse. Mas naquele dia o destino lhe sorriu e desde aquele momento, o copo ficou marcado para ser seu.

Começou com as garrafas: o destilado caribenho e o xarope vermelho-sangue. Desembrulhou seu Toróide Alquímico, que estava envolto em tecido para evitar danos à sua superfície polida. Tirou o espremedor de limões de um saco polimérico; separou dois pratos (que já estavam na mesa), retirando os gurdanapos de cima deles. Os limões permaneceriam dentro da alforja e seriam retirados quando necessários. Faltava uma faca para cortar os limões. Então o Equilibrista saiu em busca do utensílio e descobriu o caminho até o corredor de preparo e despacho dos alimentos e bebidas. Entrou em contato com uma das serviçais e, minutos mais tarde já tinha em mãos o objeto cortante.

Um elemento se mostrara indispensável naquele dia: água sólida. Por alguma razão, os controladores climático-ambientais foram desativados e o recinto tornou-se tão quente quanto uma sala de caldeira. Por sorte, um dos pontos de distribuição de bebidas encontrava-se logo atrás da mesa da Rainha Mestiça, então haveria água sólida à vontade.

Colocando os quatro elementos básicos dentro do Toróide Alquímico, o Equilibrista preparou as primeiras doses do letal Daikiri. Assimiladora flagrou
os ocupantes de uma mesa adjacente observarem com estupefação e cobiça enquanto o veneno vermelho era preparado. A bebida saiu exalando vapores condensando, pois sua temperatura era muito contrastante com a do ambiente, preencheu dois copos recheados de água sólida.

O grupo dançou, bebeu e comeu bastante. E todos de divertiram bastante. Em um determinado momento, o Equilibrista indagou à Rainha Negra se já não havia conhecido Assimiladora de algum lugar. A Rainha respondeu negativamente, mas o Equilibrista estava certo de já ter visto as feições da moça antes daquela ocasião. Falando diretamente com a Assimiladora, descobriu que ela era conhecida de seu irmão, o Anestesista, pois eles freqüentavam a mesma intituição e ela estivera presente nas comemorações da obtenção do título de curandeiro do Anestesista. Então era provavelmente dessas festas que o Equilibrista se recordava da Assimiladora, embora não tivessem sido apresentados ou tido contato naquelas ocasiões.

O Equilibrista tirou a Assimiladora para dançar. Foi quando começaram a distribuir apetrechos e acessórios para incrementar a aparência daqueles que acompanhavam ritmicamente (ou nem tanto) as batidas das músicas. O Equilibrista se apossou de um par de óculos, que foram doados para Daeva; e de seu terceiro ouriço estroboscópico.

Quando o Equilibrista retornou com seu reluzente aparato, o Cartomante pegou-o emprestado e pediu que o Equilibrista preparasse mais um Daikiri. Então, depositou o ouriço estroboscópico em um copo, colocou gelo e cobriu-o com Daikiri. A bebida tornou-se hipnótica, com ainda mais energia. O Futuro Pajé foi tomado pelo encanto daquela visão, que era ao mesmo tempo divina e profana. Em sua mente em devaneio, sussurava o nome que a própria bebida queria para ela. Chamou-a, então, de:
Daikiri Explosion
Continua

O baile da Discípula de Florence: Prólogo

Finalmente o dia mais exuberante das comemorações da ascensão da Rainha Mestiça ao grau de Discípula de Florence chegou. Coincidentemente, as temperaturas estavam elevadíssimas, com o dia prometendo ser um dos mais quentes daquele verão.

Na noite anterior, o Futuro Pajé havia comentado com o Equilibrista sobre a possibilidade de levar três garrafas de derivados etílicos. Uma delas já estava reservada a um fermentado de uvas carbonatado e um destilado talvez fosse levado por um outro amigo da Rainha Mestiça. O Futuro Pajé inquiriu se seria possível fazer o Daikiri, mas para isso, precisariam de duas garrafas: uma do destilado caribenho e outra do xarope vermelho-sangue (jamais cometam a rudeza de confundi-lo com groselha). Mas o assunto ainda não estava terminado, e viria a ser concluído na tarde daquele dia escaldante.

O Equilibrista acabara de voltar de uma busca por mantimentos quando viu que haviam tentado contato com ele através do Aço Negro. Identificando a assinatura numérica da Rainha Mestiça, fez contato com ela e esta solicitou que o Toróide Alquímico do Equilibrista fosse levado ao baile daquela noite. O Equilibrista, muito satisfeito com o pedido, assentiu e também se responsabilizou pelo xarope vermelho-sangue.

A hora se aproximava. O calor era quase insuportável e a idéia de vestir um traje social completo naquelas condições climáticas desesperava o Equilibrista. Mas, como pompa era requerida, era preciso resignar-se. Mesmo à noite a temperatura não baixava. Era como se Hades estivesse incendiando todo seu reino e Hélios, mesmo escondido, enviasse suas radiações.

O Equilibrista estava pronto e seu equipamento, devidamente separado. Partiu, então para a estação do tatu andarilho, onde seria pego pelo Cartomante e Daeva (leia-se Deva).

A carruagem movida a combustão interna do casal chegou e, ao entrar nela, o Equilibrista achou interessante a camisa cor-de-pele do Cartomante, mas, segundos mais tarde, percebeu que não havia camisa alguma ao ser advertido por Daeva para não se sentar nos trajes do Cartomante. Daeva indagou o conteúdo da sacola carregada pelo Equilibrista, que revelou que aquela noite seria colorida pelo Daikiri. Com o excelente senso de direção de Daeva, o trio chegou sem problemas ao local do baile. Por um acaso que mais pareceu o funcionamento de engrenagens sicronizadas, a estrela daquela noite surgiu logo em seguida: a Rainha Mestiça, acompanhada pelo Futuro Pajé e Assimiladora. Esperaram o Cartomante terminar de se vestir e entraram no salão.

Assistindo à alforria alheia - Adendo

No mesmo dia da cerimônia, o Equilibrista tinha que pagar o tributo mensal para concessão de minutos de conversação do Aço Negro. Sabendo que, muito provavelmente, não retornaria ao seu reduto tão cedo, concluiu que seria prudente levar o pergaminho contendo a seqüência numérica para identificação e quitação do tributo até a sua guilda e, de lá, efetuar o pagamento. No entanto, como aquele era um dia especial que requeria itens não usuais no inventário do Equilibrista, tal pergaminho permaneceu no reduto.

Antes de tomar seu tranporte, o aventureiro se deu conta do lapso ocorrido, mas não voltou para buscar o item, pois sabia que era possível adquirir a seqüência numérica por contato vocal. Já na sua guilda, esperou até o período intermediário entre o ápice do sol no firmamento e seu repouso no horizonte, uma vez que era nesse horário que as atividades eram mais escassas, para tentar adquirir a seqüência.

Tentou seu primeiro contato. A operadora verificou que a rede de informações para aquela função específica estava inoperante no momento, pedindo para o Equilibrista fazer uma nova tentativa em dois ciclos do relógio.

No segundo contato, o Equilibrista nem chegou a formular seu pedido. Mal se identificou e, novamente, alegaram que a rede estava em manutenção, sugerindo um outro contato em dois ciclos do relógio.

Acostumado com essas dificuldades impostas pelo destino, o Equilibrista fez sua última tentativa. A rede ainda não havia sido restaurada e pediram para que tentasse novamente no dia seguinte. Mas seu prazo se expirava naquele mesmo dia.

Resolveu não se demorar muito na cerimônia, para que houvesse tempo de efetuar o pagamento através de T-L. Então, ao término do ritual, teve de recusar o convite para acompanhar a Rainha Mestiça e seu clã. O Futuro Pajé, sabendo do limite de tempo do Equilibrista, prontamente acompanhou-o até a área externa da fortificação. Foram até a carruagem provisória (o por quê de carruagem provisória não será tratado nessas crônicas) da Rainha onde se encontravam algumas senhas necessárias para o evento de gala do dia seguinte e uma dessas foi entregue ao aventureiro.

O Equilibrista, então, rumou para o local de interceptação do transporte de densidade vezes volume, onde, miraculosamente, não precisou esperar muito até a chegada da unidade que lhe servia. Graças ao horário avançado, o trajeto foi cumprido com boa fluência, mas o Equilibrista estava apreensivo, pois faltava apenas meio ciclo de relógio para que o dia virasse quando chegou ao local de desembarque.

Apressou-se até o seu reduto e, no caminho, ocorreu uma cena à velocidade do pensamento: avistou um artrópode da classe dos insetos, de exoesqueleto crocante e que reside na sujeira; o ser estava com a metade posterior do seu corpo na iminência de ser pisada pelo Equilibrista; o Equilibrista não hesitou e baixou seu pé enquanto pensava "será que o odor de uma companheira caída atrairia mais de sua espécie?". Sem olhar para trás, continuou seu percurso.

O aventureiro novamente deparou-se com o portal de sua torre fechado e sem o sentinela para abri-lo. Olhou para o relógio e já pensava nos vitupérios que iria dizer ao evacuador fecal caso não entrasse a tempo de pagar o tributo. Foi quando olhou para baixo e viu um trio de insetos crocantes e pensou se, realmente, o odor das vísceras de outra de sua espécia as atraía. Suas reflexões foram interrompidas pelo som do portal se destravando. O relapso sentinela havia retornado. O Equilibrista praticamente ignorou-o se subiu apressado ao seu reduto.

Como T-L estava sempre desperto, o Equilibrista imediatamente tomou o pergaminho e digitou a seqüência numérica, finalizando a operação quando faltava um quarto do ciclo do relógio para seu prazo expirar.

Aliviado e aproveitando que estava em frente a T-L, iniciou o Simulacro de Hermes instantâneo, onde encontrou Devil. Confabularam por alguns minutos, mas o Equilibrista logo se despediu, pois precisava estar descansado para o dia seguinte, que reservava muitas aventuras e diversões.

sábado, 21 de janeiro de 2006

Assistindo à alforria alheia

Depois de muito batalhar para adquirir o grau de tecno-alquimista, o Equilibrista passou a se sentir mais feliz e, ao mesmo tempo, aliviado ao ver seus amigos se livrarem dos grilhões das uniões acadêmicas. Neste dia, foi ver sua amiga, a Rainha Mestiça, tomar posse do seu cilindro (na verdade, um paralelepípedo hexagonóide) vazio, na cerimônia formal.

Seguiu o fluxo de progenitores até o local da cerimônia e tentou localizar a homenageada, mas descobriu-se só no meio da multidão. Tentou usar Aço Negro para contatá-la, mas a estrutura semi-subterrânea bloqueava eficientemente o sinal. Também não conseguiu contato com o consorte da Rainha, o Futuro Pajé. Era quase a hora da cerimônia ter início quando ouviu, do outro lado do saguão, o Futuro Pajé gritando o seu nome. O Equilibrista foi de encontro ao casal e, assim que a Rainha Mestiça vestiu seu traje cerimonial, começaram a imortalizar alguns momentos. Houve um certo tumulto, pois havia uma certa máfia que queria ser imortalizada. Em meio ao tumulto, o Equilibrista e o Futuro Pajé se olvidaram do nome do ornamento usado na cabeça naquela ocasião.Pensaram em substantivos como quepe e até barreta, mas a dúvida foi sanada por um imortalizador de momentos profissional: o nome era capelo. Não se sabe por que o assunto surgiu, mas conhecimento é poder.

Eis que a energia do dispositivo de armazenamento de momentos imortalizados da Rainha Mestiça dissipou-se completamente. Então, a dupla Futuro Pajé e Equilibrista se viram na incumbência de encontrar alguém que pudesse imortalizar o momento em que a Rainha Mestiça recebesse seu cilindro oco (por favor, sem conotações libidinosas). O Equilibrista não foi nada útil na tarefa, uma vez que não conhecia mais ninguém além do casal. Futuro Pajé, aparentemente, havia sido bem sucedido na empreitada e, logo em seguida, deu-se o aviso para que os homenageados se perfilassem e se preparassem para a entrada. Como a maioria dos que deviam colocar-se em fila e em ordem alfabética eram do sexo feminino, a tarefa levou muito mais tempo do que seria considerado normal. Até mesmo o local de entrada foi alterado, sabe-se lá por quê.

Enquanto procuravam um substituto para o dispositivo, todos os assentos do recinto foram tomados e o Equilibrista e o Futuro Pajé foram obrigados a permanecer de pé durante toda a cerimônia. Como esta era a posição padrão do Equilibrista, não houve problemas (pelo menos, não para o Equilibrista). Os dois se posicionaram atrás da última fileira de assentos, atrás de uma senhora que parecia prestar mais atenção à conversação da dupla do que à cerimônia, pois pedia silêncio incessantemente. Se mais energia fosse gasta em prestar atenção ao que acontecia à sua frente, provavemente não se sentiria tão incomodada, já que o tom de voz do Equilibrista costuma ser tão alto quanto um sussuro (mas também havia o Futuro Pajé, cujo volume da voz era um pouco mais audível - eufemisticamente falando).

Quando o momento em que a Rainha Mestiça se apoderaria do cilindro oco se tornou iminente, a dupla se deslocou para mais perto do tablado. O Futuro Pajé se apossou do dispositivo substituto e imortalizou vários momentos de várias das homenageadas. Já o Equilibrista capturou os movimentos da Rainha Mestiça ao receber o objeto e retornou ao fundo do recinto.

Durante a cerimônia, o Equilibrista adquiriu uma certa antipatia pelo mestre de rituais, uma vez que este era um adepto do gerúndio e não conjugou nenhum verbo em seu tempo futuro.

Teminados todos os ritos e homenagens, o Equilibrista parabenizou sua amiga, que chegou até ele furtiva e sorrateiramente e, depois de algumas buscas e desencontros, reuniram-se com o Futuro Pajé e com a família da Rainha Mestiça. Seguiram-se apresentações, cumprimentos, imortalizações de momentos e a despedida. A Rainha e seu clã iriam para um estabelecimento de consumo de proteína animal e o Equilibrista foi convidado para acompanhá-los, mas o aventureiro teve que declinar do convite, pois precisava estar em seu reduto antes da virada daquele dia para o seguinte.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Conhecendo o Equilibrista: Memórias clássicas

O Equilibrista foi um aprendiz em uma aclamada escola de tecno-alquimistas, na qual fez vários amigos, entre colegas e mestres. Desses amigos, aqueles que mantinham maior contato eram os da Facção Filantrópica, composta por aprendizes do mesmo estágio de conhecimento. O grande grupo desse estágio era subdividido em quatro: a Turba Misantrópica, Madeixas Douradas, os Párias e a já citada Facção Filantrópica.

Apesar dos nomes antagônicos, a Turba Misantrópica e a Facção Filantrópica não eram inimigos. A Turba mantinha relações amigáveis praticamente com todos os sub-grupos; a Facção era mais próxima da Turba e de alguns dos Párias; e as Madeixas eram, por vezes, aliadas da Turba e de poucos Párias. Isso não significava que não houvesse transações entre a Facção e as Madeixas, mas tais ocasiões eram realmente raras e, geralmente, tensas.

Mas no princípio, todo o grupo era uma massa carregada de entropia, onde todas as moléculas interagiam com grande liberdade e sem restrições coligativas. E nesse sistema caótico começaram as primeiras ligações daqueles com maior afinidade. Os primeiros a se juntarem foram Vítima da Conspiração, Artesã, o Equilibrista e Pagodeiro Albino. Este último debandou para o lado a Turba nos anos que se seguiram.

A Facção foi crescendo com a chegada de Lebre Platina e Irmã Gêmea. Nesse mesmo ano, foi realizado o primeiro Fondue Anual da Facção, com os membros que possuía até então.

Nos meses e anos seguintes, associaram-se Sonâmbula, R.P., LeeLoo, Influenza e Tecnocrata. Finalmente A Facção Filantrópica estava completa e, desde então, seus membros foram protagonistas de várias aventuras, combates, peregrinações e comemorações.

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

A voz do Banshee

Enquanto escrevia em uma linguagem estranha, cheia de caracteres diferentes, colchetes e parênteses, outro lampejo de memória invadiu a mente, então entediada, do Equilibrista. Viu-se, também entediado, em seu reduto, num dia em que muitos foram agraciados com uma folga. Resolveu assistir a reproduções audio-visuais orientais através do T-L e, após alguns minutos, foi interrompido por uma comunicação vocal do Andarilho. Acabara de ser intimado a comparecer, em um ciclo e meio do relógio, no Centro de Compras Luminescente para, de lá, irem a uma taverna. Como não tinha feito planos para o almoço, confirmou sua presença e parou a exibição audio-visual.

Colocou seu traje de viagem e preparou Aço Negro para sair também. Desde sua chegada, Aço Negro tinha sido um companheiro quase inseparável do Equilibrista. Era através dele que o Equilibrista se comunicava com seus amigos e parentes, visualizava e ouvia itens animados orientais quando estava longe do T-L e checava suas correspondências, entre outras capacidades de informação e entretenimento.

Dentro do prazo estipulado, o Equilibrista chegou ao ponto de encontro. Lá já estavam Andarilho e Otome (o Andarilho tinha enviado uma mensagem curta apressando o Equilibrista). Informaram o recém-chegado que estavam esperando mais três pessoas e que, depois do repasto, iriam ao reduto do Equilibrista. Apesar de surpreendido, o futuro anfitrião não fez nenhuma objeção. Aproveitou para apresentar Aço Negro para o casal e, depois de um tempo, um outro casal chegou: Morgana Red e Fumaça. Faltava, então, apenas uma pessoa.

Como o sexto elemento estava demorando muito e Fumaça não dispunha de muito tempo para ficar com o grupo, resolveram se deslocar para a taverna.

O estabelecimento não era dos maiores, nem um paraíso gastronômico, mas as taxas cobradas faziam jus ao seu porte. Os cinco se serviram e, enquanto comiam, Bowie comunicou-se com o Andarilho, que saiu para indicar o caminho ao último do sexteto.

O grupo estava completo. Comeram, beberam e conversaram. Morgana Red contou sua teoria do panetone (que não será exposta nessas crônicas... por enquanto) e foram comentadas lutas em uma arena com um ungüento azulado. Então, o limite de tempo de Fumaça chegou e este deixou a mesa. Para acertar sua parte da conta, deixou seu cartão imantado para transações templárias com Morgana Red, mas teve alguma dificuldade em fazê-la lembrar do código de destravamento, pois o Equilibrista estava a uma distância audível para que a sigilosa informação fosse passada com segurança.

O grupo estava incompleto. Comeram, beberam e conversaram mais um pouco, até que resolveram colocar o pé na estrada. No caminho, encontraram um corredor de simuladores interativos e, não resistindo à emoção de um jogo, o quinteto gastou algumas moedas e teve muita diversão em troca.

Depois de algum tempo, lembraram-se que o Equilibrista seria o anfitrião naquele dia e iniciou-se a jornada ao seu reduto. Quando estavam prestes a chegar na estrada principal que os levaria ao seu destino, um forasteiro embriagado abordou os aventureiros. Mesmo depois de ouvir com todas as palavras que não era bem-vindo, o invasor não parava de seguir o grupo. Parecia querer algo com o Andarilho. Houve um certo silêncio e continuaram seu trajeto, mas ao olharem para trás, lá estava o impertinente indivíduo. Percebendo que não havia outra alternativa (na verdade, havia, mas tortura e morte não estavam programadas para o dia), o Equilibrista fez soar sua voz num volume que nenhum dos presentes jamais havia ouvido. Seu comando aturdiu a todos e teve o efeito desejado: acuou o forasteiro, que trocou mais algumas palavras com o Andarilho e, finalmente deixou de aborrecer o grupo.

Antes de chegarem ao reduto do Equilibrista, fizeram uma parada para adquirir mantimentos. Houve um pequeno episódio levemente constrangedor na saída do mercado, o que fez com que o Equilibrista e Morgana Red tomassem a dianteira, se afastando um pouco dos outros três membros.

Já no reduto, o grupo experimentou alguns coquetéis:
NCcS e Ice Vader. Otome não gostou de NCcS e, visivelmente, queria um Daikiri mas, naquela ocasião, o Equilibrista não dispunha de dois ingredientes fundamentais para seu veneno principal, o que impossibilitou sua confecção. Morgana Red contou várias histórias e Otome leu um texto muitíssimo interessante (pelo menos para o Equilibrista, Bowie e Morgana Red, pois o Andarilho dormiu). Uma rápida conferência foi iniciada com Devil, que, no início, foi logrado por Otome, que se fez passar pelo Equilibrista através do Simulacro de Hermes Instantâneo. Devil reclamou por não ter sido incluído no grupo, mas, como tudo foi resolvido repentinamente, foram convocados apenas os que habitavam nas proximidades do ponto de encontro.

O Andarilho quis iniciar uma sessão de narrativas digitalizadas mas, devido ao horário avançado, não seria possível para Bowie retornar à sua morada antes do fim da exibição, a não ser que dormisse no reduto do Equilibrista. Mas como este não podia passar a noite em vigília, a sessão foi cancelada e o grupo se despediu, encerrando um dia em que o tédio não dominou.

O Equilibrista suspirou e escreveu um "V" com o vértice voltado para a direita.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

A Queda do Equilibrista: Epílogo

No dia seguinte, os efeitos se multiplicaram. Havia a letargia, a lentidão nas reações, o enjôo e o desarranjo gastro-intestinal. Para evitar expelir oralmente seu conteúdo gástrico, o Equilibrista ingeriu uma pastilha alva comprimida (Plasil), mas esta foi prontamente regurgitada. Depois de mais algumas horas de sono, idas ao recinto de descorporificação dos resídos alimentícios e abstinência etílica, os efeitos da intoxicação foram atenuando-se e, já de pé no final do dia, o Equilibrista estava pronto para retornar ao seu reduto.

Como sua residência era localizada no mesmo setor que a do Equilibrista, J.W. o acompanhou na jornada de volta.

Em frente à entrada de seu reduto, o Equilibrista novamente se deparou com um portão fechado. O sentinela do portal não estava e, por mais que o já-impaciente-morador acionasse o dispositivo de convocação do guarda, este não aparecia. Um quarto de hora depois, eis que surgiu a vil criatura que abandonara seu posto e liberou a entrada do então-muito-mau-humorado-morador. O sentinela se desculpou, informando que estava no
recinto de descorporificação dos resídos alimentícios. Ao ouvir isso, o Equilibrista simplesmente dirigiu-lhe seu olhar fulminante e de desprezo e disse "ah, certo" enquanto pensava "mais de quinze minutos eliminando o bolo alimentar? Que defecador exemplar (tradução: cagão!)".

Já em seu reduto, eliminou a sujeira da viagem com água morna corrente e rumou para o mundo onírico.

Despertando deste sono, o Equilibrista percebeu que havia recuperado uma parte de sua memória. O dia já parecia mais claro que o anterior, mas os adivinhos climáticos previram chuva no fim do dia.

A Queda do Equilibrista

Em seus sonhos, o Equilibrista vislumbrou, de relance, um fato passado: voltando de uma busca quase bem-sucedida, quatro cavaleiros se depararam com um portão fechado. O Equilibrista, Pringl, J.W. e Andarilho estavam do lado de fora da morada do último... sem a chave. Houve apenas um momento de perplexidade, pois o Andarilho facilmente transpôs a muralha e as defesas de sua própria fortificação e abriu caminho para os demais. Então levaram seus espólios até a câmara de estase de baixa entalpia para baixar a temperatura dos fermentados áureos de cevada. J.W. não parava de reclamar da falta de água sólida, que o grupo falhara em adquirir.

Otome não tinha acompanhado o grupo na busca, pois estava com cefalgia e, devido à deveras prolongada ausência dos quatro cavaleiros, havia retirado-se para seus aposentos e estava dormindo. Furtividade e silêncio não foram muito bem utilizados, o que quebrou o estado de repouso de Otome. Para o espanto de todos, seu humor não estava tão ruim e o Andarilho ministrou uma dose de barbitúricos recém-adquiridos para aplacar a dor que Otome sentia.

Um dos itens conseguidos na demanda foi uma garrafa de destilado cirílico produzido em terras tupiniquins de baixíssimo valor agregado. Como limões e açúcar também constavam no inventário, resolveram fazer uma Diminuta Moradora da Zona Rural, mesmo sem gelo. O Equilibrista começou a preparação, mas J.W., ainda reclamando da falta do ingrediente de baixa temperatura, não parava de opinar quanto ao método de preparação da bebida. Então o Equilibrista, gentil e educadamente (ao contrário dos impropérios que inundavam sua mente naquele momento), convidou o exigente indivíduo a tomar o seu lugar. A Diminuta ficou pronta e foi servida a todos os presentes, e cada um teve uma opinião diferente quanto à falta de algum componente.

O Equilibrista era conhecido por sua habilidade em criar coquetéis etílicos com os mais variados ingredientes. Então, com limões, o destilado de baixo valor agregado e um preparado instantâneo edulcorado de baixo teor calórico sabor guaraná, produziu um veneno tão corrosivo e tóxico que poucos se atreveram a dar mais do que um gole.

Em alguma ocasião, Apelão chegou à morada. Ele sabia onde conseguir a água sólida, então partiu, na companhia de J.W. e Pringl.

Para não desperdiçar a bebida, o Equilibrista corajosamente terminou de beber sua poção cáustica. Quando o grupo voltou com gelo, o Equilibrista estava realmente Bêbado. Doses cavalares de bebidas etílicas não costumam afetar este exímio degustador, mas esta não era uma bebida comum. Nunca se soube o que acarretou a quebra da resistência a toxinas do Equilibrista - se foi o aspartame do guaraná ou o chumbo do destilado; mas o efeito era nítido: o torpor o dominava e suas sinapses estavam lentas. Então, seguiu-se outro fato inédito: o Sono do Equilibrista. Ninguém jamais havia presenciado este acontecimento. Muitos achavam que o Equilibrista não dormia. Mas seu sistema regenerativo estava consumindo muita energia, então, desta vez, Hypnos saiu vitorioso.

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Um dia cinzento


Depois de um longo período em peregrinação, o Equilibrista retonou ao plano material com fragmentos de memória da fase passada. Nem tudo foi perdido, mas muitos fatos não serão lembrados, nem a ordem cronológica.

Uma coisa estava certa em sua mente: a serenidade foi perturbada. Não podia-se afirmar que estivesse deprimido mas, com certeza, não estava satisfeito. Havia algo que minguava dentro de seu ser e não podia dizer o que era.

O melhor a se fazer era dormir... e esperar por dias mais ensolarados.

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